São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Maioria no Congresso dependerá do PMDB

CLÓVIS ROSSI ; VALDO CRUZ
DA REPORTAGEM LOCAL E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A definição mais concreta sobre a base parlamentar de sustentação do novo governo vai depender do desfecho da previsível guerra interna no PMDB.
``O PMDB é a grande incógnita do período pós-eleitoral", afirma, com razão, Pimenta da Veiga, presidente nacional do PSDB e um dos principais comandantes da campanha de FHC.
A única certeza em relação ao PMDB é a de que continuará como um partido forte no Parlamento federal. Terá um mínimo de 90 deputados e um máximo de 115, conforme previsão feita pelo Inesc (Instituto de Estudos Sócio-Econômicos), especializado no Legislativo federal (ver quadro).
A incógnita é saber quem comandará o partido, após a derrota humilhante que sofreu o seu candidato Orestes Quércia.
A ala gaúcha, comandada pelo senador Pedro Simon e pelo provável governador Antônio Britto, pretende tomar conta do partido, forçar a saída dos quercistas e aliar-se a Fernando Henrique.
Mas, para isso, exige um espaço que só pode ser concedido às custas do PFL.
Já o senador e ex-presidente José Sarney, embora também pronto para apoiar FHC, prefere manter um pé igualmente no PFL, pelo qual elegeu sua filha Roseana para o governo do Maranhão.
Resta o próprio Quércia, disposto a dar combate apesar da derrota.
O enfraquecimento do PMDB, de toda forma, abre caminho para uma migração em massa para o PSDB, nascido justamente de uma cisão antiquercista e anti-sarneyzista do PMDB.
Pimenta da Veiga acha que o PSDB deve controlar a entrada dos peemedebistas. Seu argumento é lógico: se houver uma migração em massa, os atuais peessedebistas acabarão ficando em minoria (o PSDB deve eleger no máximo 60 deputados). Nesse caso, em vez de um novo PSDB, ter-se-ia o velho PMDB com um novo rótulo.
Superpartido
Já Sérgio Motta estimula a adesão do que chama de ``peemedebistas éticos" (para diferenciá-los, na prática, dos quercistas), de acordo com o seu desejo de criar um novo superpartido no Brasil, já anunciado pela Folha (o SDB, Social-Democracia Brasileira).
Motta conta também com adesões de fatias importantes do PDT e até do PT, com o que o superpartido ficaria mais inclinado à esquerda, contrabalançando a presença de pefelistas e petebistas.
Mas esse é um projeto de médio prazo. José Eduardo de Andrade Vieira, senador e presidente nacional do PTB, acha que uma reformulação partidária tão profunda só virá mesmo depois da revisão constitucional, que, nesse caso, incluiria reformulação da legislação partidária e eleitoral.
Esse tipo de reforma também está nos planos. ``Não dá para se imaginar uma nova eleição, em 1998, com os cruzamentos tortos feitos nesta eleição", diz Paulo Renato Souza, coordenador do plano de governo de FHC, em alusão à enorme confusão de coligações estaduais.
Até lá, no entanto, o novo governo terá que jogar com as regras do atual quadro partidário e é por isso que o PMDB tende a permanecer como o fiel da balança para determinar maiorias eventuais.
Afinal, mesmo na hipótese mais otimista, os partidos da coligação governista (já incluindo o PP), não conseguirão atingir os 257 deputados que formam a maioria absoluta da Câmara.
Menos ainda os 3/5 que são o quórum mínimo para aprovação de emendas constitucionais.
O PMDB, portanto, acaba sendo indispensável. Para tranquilidade de FHC, todos os governadores que o partido está elegendo ou pode eleger este ano já aderiram a ele, o que tende a facilitar a atração dos deputados desses Estados.
(Clóvis Rossi e Valdo Cruz)

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