São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994 |
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Outros políticos resistiram a derrotas seguidas
JOÃO BATISTA NATALI
Na América Latina, o caso típico foi corporificado por Salvador Allende, eleito como presidente do Chile em 1970, depois de uma série de três derrotas. A primeira delas foi em 1952, contra Carlos Iba¤es del Campo. Quatro anos depois, em 1958, perderia novamente para Jorge Alessandri, por uma margem impossivelmente estreita de 32 mil votos. Não esmoreceu. Disputou novamente a Presidência em 1964 e perdeu para Eduardo Frei, pai do atual presidente chileno e, como ele, democrata-cristão. Obteve em 1970 a primeira colocação, com 36,3% dos votos. O segundo turno teve lugar no Congresso, quando só então conquistou a maioria absoluta. Foi derrubado, em setembro de 1973, com o golpe militar chefiado por Augusto Pinochet. Na França, outro exemplo bem-sucedido de persistência é o do atual presidente François Mitterrand. Ele perdeu duas eleições, em 1965 e em 1974, antes de se eleger em 1981. O líder socialista francês, em sua primeira tentativa, foi deliberadamente para o sacrifício (só 36% dos votos no segundo turno). Sua candidatura correspondeu, no entanto, à tentativa de catalizar a esquerda não-comunista, que estava em frangalhos. Em 1974, Mitterrand quase chegou lá. No segundo turno, perdeu para Valéry Giscard D'Estaing (centro-direita) por 400 mil votos num conjunto de 26 milhões de votantes. Elegeu-se sete anos depois contra o mesmo adversário, desta vez com 51,7%. Ainda na esquerda, há também o precedente do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) de Felipe Gonzales. Na primeira eleição do pós-franquismo, em 1977, o partido ficou em segundo lugar e acumulou forças na oposição durante o governo de centro-direita de Adolfo Soares. A revanche chega em 1982. O PSOE tem mais votos que seus concorrentes (28,1%) e Gonzales forma seu primeiro gabinete. Está no poder até hoje. Nos Estados Unidos, o republicano Richard Nixon foi o exemplo mais recente do derrotado que conseguiu virar o jogo. Em 1960, perdeu para o democrata John Kennedy. A desforra veio em 1968, quando derrotou Hubert Humphrey. Reelegeu-se em 1972 contra George McGovern. Não cumpriu até o fim o mandato. Renunciou antes da votação de seu impeachment durante o escândalo Watergate. Outro político de centro-direita, o atual presidente boliviano, Gonzalo Sánchez de Lozada, só se elegeu na segunda tentativa. Seu caso é mais atípico. Nas presidenciais de 1989 ele chegou em primeiro lugar (23% dos votos), mas o Congresso, encarregado do segundo turno, acabou elegendo o terceiro colocado nas urnas, Jaime Paz Samora. Em 93, Lozada volta a obter a primeira colocação no voto popular (36%) e o Legislativo o confirma como presidente. Texto Anterior: Candidato se atrapalha Próximo Texto: Projeto político de Lula ainda é incerto Índice |
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