São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Projeto político de Lula ainda é incerto

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva sabe qual o futuro político de Lula. O candidato do PT à Presidência da República tem, nas conversas com os amigos, utilizado com insistência a palavra ``reavaliar" quando perguntado sobre seus próximos passos.
Lula só definiu que não voltará ao sindicalismo nem se afastará do PT, embora não pense em retornar à presidência do partido, da qual está licenciado.
Hoje, Lula tende a não disputar em 98 à Presidência da República. Mas, caso mude de idéia, é impensável que qualquer petista ouse desafiá-lo numa eventual disputa interna pela indicação à candidatura.
No curto prazo, Lula pretende descansar a partir dos próximos dias. Depois, pode percorrer parte do país para agradecer os votos que recebeu ontem.
O candidato tem vários convites para viagens internacionais e deve aceitar pelo menos um roteiro pela China, que está sendo agendado por Marco Aurélio Garcia, secretário de Relações Internacionais do partido.
Lula sabe que terá que administrar, no primeiro momento, o aceno que o PSDB deve fazer a figuras petistas para participação no futuro governo.
Depois, como magistrado ou participante ativo na discussão, uma tarefa mais difícil espera o líder do PT: a avaliação das causas da derrota de ontem.
Amigos e mesmo petistas mais distantes de Lula acham que o teor do engajamento do candidato no balanço é que sinalizará o plano de Lula.
A tradição petista ensina que Lula não tem paciência e interesse nas discussões do aparelho partidário. Troca com prazer uma interminável querela por um bom jogo de futebol pela TV.
Agora, Lula tem insistido na tese que o PT precisa ampliar seu discurso para captar setores da classe média. A intenção bate de frente com a prática dos grupos de esquerda e extrema esquerda do petismo que hoje são hegemônicos na direção do partido.
``Lula terá que organizar o debate interno", acha Marco Aurélio Garcia, que não exclui a possibilidade de Lula ``mediar" o confronto entre as alas do PT.
A idéia de Lula atuar mais uma vez como magistrado nas polêmicas internas desagrada os setores moderados do PT, que atribuem em parte ao alheamento do candidato a tomada do poder pelos grupos mais sectários da legenda.
José Genoino, líder mais expressivo do setor moderado do PT, acha que a eleição levará a um patamar mais alto alguns políticos que hoje são minoria no partido.
``Olivio Dutra, Tarso Genro e Vitor Buaiz, por exemplo, vão crescer", diz Genoino, que defende outro papel para Lula: ``Ele (Lula) tem que se voltar mais para a formulação política", receita.
Rui Falcão, o presidente do PT, afirma que Lula pode até voltar a dirigir o partido por unificar todas as suas alas. ``É muito cedo ainda para se falar nisso, mas é óbvio que o Lula continua sendo o nosso candidato natural", declara Falcão.
A impressão que Lula tem deixado nos interlocutores recentes é que vai esperar os primeiros passos do governo FHC para sinalizar o tom do discurso.
A previsão dos economistas petistas, que têm errado várias vezes, é que uma recessão de bom tamanho é necessária para consolidar a estabilização no Plano Real.
Os primeiros meses do novo governo coincidirão com o processo de renovação da cúpula petista. A ``reavaliação" de Lula é hoje uma ``caixa preta".
No PT só há hoje uma certeza: não há como separar o futuro do partido da opção pessoal, ainda desconhecida, do candidato.

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