São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Peemedebista volta à política regional

ANDREW GREENLEES
DO PAINEL

A derrota por larga margem na eleição presidencial devolve Orestes Quércia à condição de político regional. Seu futuro imediato será o de tentar recompor suas bases paulistas e, se conseguir, buscar novamente a disputa de espaço no PMDB.
O partido passa a ter dois pólos, desde que seus líderes confirmem a vitória nas urnas: o ``grupo gaúcho", que engloba a ala mais próxima ao PSDB, e o ``grupo de Sarney", liderado pelo ex-presidente e com ligações ao PFL.
Num primeiro momento, Quércia escolheu Sarney como alvo e já prometeu atuar para excluir o ex-presidente do partido.
O grande problema para Quércia é que sua a derrota foi consideravalmente maior do que ele próprio chegou a calcular, o que dificulta sua ação nacional no PMDB.
Desde o início da campanha, o candidato peemedebista sabia que seria abandonado por parcela do partido, mas não esperava que chegasse a tanto.
Acreditava-se na cúpula quercista que, mesmo na derrota, o candidato obteria força suficiente para ser um dos principais líderes da oposição ao futuro governo. Mas ninguém no quercismo contava com a ``polarização" com Enéas. Agora, a atuação de Quércia será em São Paulo.
Dará combate ao atual governador, Luiz Antonio Fleury Filho, para evitar que ele mantenha influência no partido.
O quercismo está em pé de guerra com Fleury e debita ao governador paulista boa parte dos problemas de Quércia. Acha que Fleury não se empenhou na campanha. Os aliados de Quércia dizem que, fora do Palácio dos Bandeirantes, Fleury será isolado, especialmente se for confirmada a derrota de Barros Munhoz.
Mas do lado de Fleury –bem como entre lideranças como Sarney e Pedro Simon– a avaliação é completamente oposta: Quércia, dizem, é que manobrou a máquina partidária de forma a impedir uma aliança com o PSDB e o lançamento de um candidato com melhores chances, como Britto.
Para essas lideranças, Quércia enfrentará duras cobranças por ter inviabilizado o PMDB.
Aliados de Quércia são unânimes em apontar como maior obstáculo na campanha a imagem associada a irregularidades administrativas. Não há consenso, porém, sobre o desdobramento.
Um grupo diz que a campanha ajudou a eliminar essa imagem e que ele ganhou pontos por ficar até o final. Mas outros acham que ele não conseguiu livrar-se do problema e que nem mesmo tentou fazê-lo na campanha. Os ataques ao real também pesaram contra.
Todo o discurso de ``tocador de obras", as fotos de estradas construídas durante seu governo em São Paulo e as críticas ao ``governo frouxo" não foram suficientes para dar ao peemedebista a credibilidade de que ele necessitava para, primeiro, ter o PMDB a seu lado e, mais importante, convencer o eleitor.

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