São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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PT recolhe espólio no RS

RODOLFO LUCENA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Esta eleição traz um gosto amargo para os seguidores do candidato do PDT à Presidência, o gaúcho Leonel Brizola. É a derrota no Rio Grande do Sul, onde, segundo as pesquisas, Brizola fica relegado ao terceiro posto, muito longe dos 60,8% dos votos que teve nas eleições presidenciais de 1989.
O fracasso brizolista é agravado pelos resultados para o governo do Estado. O candidato Sereno Chaise, trabalhista histórico, está reduzido a 5% dos votos, conforme pesquisa Datafolha.
O PT aparece como o grande beneficiário do espólio brizolista. No Rio Grande, Lula tem perspectivas de vencer Fernando Henrique, a se confirmar a tendência apontada pelas pesquisas.
O PDT corre grandes riscos. ``Se houver 2º turno (sem Brizola), qualquer posição que o partido tomar vai provocar um racha", diz Carlos Bastos, coordenador da campanha no rádio e TV.
``Vai ser doloroso admitir a derrota de Brizola no Rio Grande", diz o candidato ao Senado Elói Guimarães, 51, fundador do PDT no Estado.
Para ele, o partido terá que passar por um grande processo de debate interno.
``O pau vai comer. Ou nos encaminhamos para uma discussão profunda, sem hipocrisia, ou nós vamos nos decompor", diz ele.
Brizola perde apoio em outros partidos. O campeão de votos Sérgio Zambiasi, deputado estadual do PTB eleito com 320.323 votos, que pediu votos para Brizola em 89, agora está com FHC.
``As eleições vão passando e ele vai perdendo o vínculo com o Estado. Outro desgaste brutal foi a teimosia de apoiar Collor até o impeachment. Pela primeira vez, Brizola foi contra a vontade popular", disse.
A derrota do brizolismo tem raízes profundas, na opinião do senador José Fogaça (PMDB). ``Ele ainda tem conceitos dos anos 50 sobre questões políticas e econômicas." Para ele, os 14% que Brizola deverá ter são ``a rapa do tacho do brizolismo no Rio Grande".
A questão, agora, é quem fica com o espólio do brizolismo. Quem primeiro apresenta armas é o PT: o candidato a vice na chapa de Olívio Dutra, Éden Pedroso, é um ex-pedetista.
O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, trabalha nessa atração. ``Muitas lideranças intermediárias do PDT estão se aproximando, por causa do trabalho político da prefeitura", diz ele.
Collares
O governador Alceu Collares, do PDT, diz não saber a que atribuir a queda do desempenho do Brizola.
``Há alguns fatores, eu não saberia explicar. Eu acho é que a campanha das elites. Elas prepararam estrategicamente um plano para combater a inflação que servisse também de alavanca para a candidatura FHC."
Sobre 98, prefere não fazer previsões. Mas diz: ``O Brizola sempre diz que esta é a última eleição dele, mas se ele estiver vivo, ele vai".

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