São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Brasil abre hoje a Feira de Frankfurt

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A 46ª edição da Feira de Livros de Frankfurt, o maior evento editorial do mundo, será inaugurada hoje com sotaque brasileiro –mais precisamente, nordestino.
Um discurso do escritor maranhense Josué Montello, presidente da Academia Brasileira de Letras, abre oficialmente a feira às 17h (13h, horário de Brasília), com a presença do ministro da Economia da Alemanha, Günter Rexrodt. Para o público, estimado em 250 mil visitantes, o evento abre amanhã e vai até o próximo dia 10.
O privilégio de Montello tem uma explicação: o Brasil é o país-tema desta edição da feira. Além do estande coletivo de 250 m2, que abrigará 97 editoras brasileiras, o país ocupará o pavilhão principal, de 3.100 m2, com uma exposição panorâmica (fotos, pôsteres, objetos, vídeos e até livros) a respeito da cultura nacional.
Durante a feira estarão acontecendo, em diversos pontos de Frankfurt, 14 eventos culturais levados pelo Brasil, de mostras de fotos e desenhos a ciclos de filmes, passando por um espetáculo de dança e uma exposição da obra do paisagista Burle Marx.
Delegação brasileira
Sessenta escritores brasileiros estão sendo esperados na feira, 18 deles convidados pelo Ministério da Cultura.
A lista oficial inclui autores igualmente oficiais, como Josué Montello (da ABL), Affonso Romano de Sant'Anna (presidente da Fundação Biblioteca Nacional), Ferreira Gullar (diretor do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura), Márcio Souza (diretor da Biblioteca Nacional) e Fábio Lucas (presidente da União Brasileira de Escritores), ao lado de independentes como Chico Buarque, João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar, Antônio Torres e Zuenir Ventura.
O mago Paulo Coelho, uma das estrelas brasileiras na feira (a outra é Chico Buarque), não está na delegação oficial: vai por conta de sua editora, a Rocco, que espera fazer ``megacontratos" envolvendo os direitos de seu livro mais recente, ``À Margem do Rio Pietra Eu Sentei e Chorei".
Barulho necessário
A indústria editorial brasileira vê o evento de Frankfurt como uma importante vitrine da produção nacional, uma oportunidade de aumentar a curiosidade européia sobre a literatura brasileira e de tornar conhecidos novos autores.
Por enquanto, só Jorge Amado, Rubem Fonseca e João Ubaldo podem dizer que contam com leitores mais ou menos fiéis na Alemanha, país em que as traduções do português representam 0,4% do total de livros traduzidos, segundo o diretor da Feira de Frankfurt, Peter Weidhaas.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) está comandando a participação nacional na feira, em parceria com a Casa das Culturas do Mundo. Com sede em Berlim, a Casa das Culturas ajudou a viabilizar as visitas de autores brasileiros a diversas cidades alemãs, além dos eventos culturais paralelos, realizados em colaboração com entidades locais.
O chamado projeto Frankfurt custou US$ 8 milhões, metade deles coberta pelos parceiros alemães. A outra metade veio do Brasil: US$ 2,8 milhões da iniciativa privada (editores e patrocinadores) e o restante do governo federal.
Todo esse esforço corre o risco de se diluir no gigantismo da feira. A quase centena de editoras brasileiras presentes (número quatro vezes maior que o dos anos anteriores) não representa muita coisa num conjunto total de 8.624 expositores de 105 países –recorde do evento. Só os anfitriões germânicos comparecem com 2.215 expositores. Há que fazer muito barulho para chamar a atenção nesse circo.

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