São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Masp expõe a partir de hoje 125 obras de cinco artistas alemães

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Gleichzeitigkeit. Ou, como se diz na língua de Machado de Assis: coincidência. Hoje, mesmo dia em que a Feira do Livro de Frankfurt abre sua 46ª edição com o Brasil como país-tema, um período importante da arte alemã recebe exposição em São Paulo.
``Cinco Artistas Alemães", no Masp, traz 125 obras sobre papel de nomes importantes da arte feita na Alemanha dos anos 70 e 80: Georg Baselitz, 56, Per Kirkeby, 56, A.R. Penck, 55, Marcus Lüpertz, 53, e Jõrg Immendorff, 49.
Conhecidos como ``The German Wilds", os selvagens alemães, eles foram responsáveis pela retomada da tradição expressionista germânica e pelo ressurgimento da pintura na arte contemporânea. A seu lado, Anselm Kiefer, 49, o melhor de todos, de quem a Bienal de São Paulo mostrou obras em 1987.
A empreitada que fez aportar aqui os trabalhos foi do dinamarquês Jens Olesen, presidente da agência de publicidade McCann- Erickson do Brasil. Para organizá-la, Olesen se sentou com Michael Werner, o mais importante galerista de Colônia (Alemanha), e fez uma seleção dentre quase 3.000 trabalhos do grupo.
Com exceção de Baselitz e Penck, que estiveram respectivamente nas bienais de 1975 e 91, os artistas são pouco conhecidos no Brasil. Os 125 desenhos, guaches e aquarelas são inéditos por aqui.
Curioso que em Frankfurt, também durante outubro e novembro, podem ser vistas duas exposições que ampliam o diálogo Brasil-Alemanha: uma que mostra o desenho brasileiro contemporâneo, outra que faz paralelo entre a pintura alemã recente e a brasileira.
Mas não há grandes correlações. Mais, a pintura alemã dos anos 70 e 80 é superior à brasileira. O que predominou aqui, como sabe quem viu a ``Bienal Brasil Século 20" em abril passado, foi a pintura toscamente gestual, de baixa expressividade e inventividade.
Na pintura alemã do período a densidade não fez ``forfait". Mesmo sem ter pintura propriamente, a exposição corrente dá bem a pesquisa formal e simbólica em que esses artistas se engajaram.
A questão que enfrentaram era retomar a arte intensamente dramática de sua tradição sem se escravizar a ela. A solução que deram, obter equilíbrio entre figuração e abstração em que a profundidade não é nem clássica (pers- pectiva) nem modernista (planificada), mas sugerida por jogos cromáticos semilivres –às vezes livres demais, como você vai ver.
Cada um o fez a seu modo. Dos cinco, Baselitz, Immendorff e Kirkeby fizeram melhor. Kirkeby, que vem ao Brasil para a abertura, também terá sala especial na 22ª Bienal, a partir do dia 12. Tanta coincidência só pode ser instrutiva; pode mostrar mais a Alemanha que qualquer contato político –afinal, como dizem eles, o ser reside na linguagem. Habite-se.
Exposição: Cinco Artistas Alemães
Onde: Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1.578, tel. 011/256-5144)
Quando: de hoje a 20 de novembro
Visitação: de terça a domingo, das 11h às 18h; quintas, das 11h às 20h

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