São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Conflito deixa americano ferido

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um soldado norte-americano foi ferido no abdome na madrugada de ontem durante troca de tiros com quatro haitianos, na cidade de Le Cayes, 150 km a sudoeste de Porto Príncipe.
As autoridades militares norte-americanas disseram não ser possível afirmar se os haitianos que atiraram no soldado eram ou não integrantes das Forças Armadas do Haiti.
No domingo à noite, tropas dos EUA prenderam o responsável pela segurança do chefe de junta militar haitiana, general Raoul Cedras, e mais três de seus aliados.
Mensagens interceptadas por norte-americanos na faixa de rádio privada do Exército do Haiti indicam que Cedras exige a liberação de seus amigos e ameaça retaliar se isso não ocorrer.
Romeo Halloun, o mais importante dos prisioneiros feitos no domingo, é conhecido por comandar um grupo paramilitar conhecido como Ninjas. Os ninjas haitianos atuam com os rostos cobertos por máscaras.
Um irmão de Halloun, Ramses, também foi preso. Eles e dois amigos estavam armados nas imediações da fábrica de ketchup de propriedade da família ameaçada no domingo por pessoas que ameaçavam saqueá-la.
Diversas lojas, fábricas e casas pertencentes a expoentes do regime militar haitiano têm sido saquedas nos últimos dias.
Pelo menos 13 pessoas já morreram e mais de cem ficaram feridas em conflitos entre haitianos desde a ocupação militar dos EUA.
A partir de domingo, as tropas dos EUA começaram a a atuar com maior agressividade para desarmar paramilitares haitianos. Cerca de 1.500 armas foram apreeendidas no domingo.
Les Cayes é uma cidade em que os partidários do presidente no exílio, Jean-Bertrand Aristide, controlam o poder.
O soldado, cujo nome não foi divulgado, está passando bem, depois de ter sido internado em um hospital militar dos EUA em Porto Príncipe.
Ele disse que abriu fogo contra os homens depois de tê-los visto subindo num muro perto das instalações dos EUA na cidade. O soldado acha que atingiu dois de seus adversários.
O soldado de Les Cayes é o segundo ferido no Haiti desde a ocupação há duas semanas. Um intérprete do Exército recebeu um tiro na perna durante tiroteio entre haitianos na semana passada.
Um soldado dos EUA se matou com seu próprio rifle em Porto Príncipe, na semana passada, no dia do seu vigésimo-primeiro aniversário.
Um grupo de miul policiais militares dos EUA sob o comando do ex-chefe de polícia de Nova York, Raymond Kelly, comeu a trabalhar ontem em Porto Príncipe com o objetivo de ajudar a manter a ordem pública.
Trezentos soldados de cinco países da região do Caribe também chegaram ontem ao Haiti com a mesma missão.
Os integrantes dessa força, os primeiros de nacionalidade não americana a chegarem ao Haiti são de Antígua, Barbados, Belize, Jamaica e Trinidad-Tobago.
A Câmara dos Representantes dos EUA vai votar esta semana resolução já aprovada em comissões da Casa para estabelecer o prazo de 1 de março de 1995 para o retorno dos soldados norte-americanos no Haiti.

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