São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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FHC e Collor

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Se as urnas confirmarem as pesquisas, Fernando Henrique Cardoso está eleito presidente. Sempre a julgar pelas pesquisas, será de novo um presidente minoritário.
Somadas as abstenções aos votos nulos, em branco e nos demais candidatos, tem-se uma maioria de eleitores hostis ou indiferentes ao presidente eleito. Tal como ocorrera com Fernando Collor em 1989.
Fica a sensação de que a sociedade brasileira está ainda longe de agregar-se consensualmente em torno de alguma proposta.
É razoável supor que a maioria que não votou em FHC tenha dúvidas a respeito de como de fato será o seu governo. Parece evidente que o Brasil necessita de uma profunda reforma, por mais que se possa discordar da forma que deva tomar tal reformulação. Fica difícil acreditar-se que uma reforma de verdade possa ser conduzida em aliança com os setores que estão no poder desde que a memória alcança.
Se querem a reforma, por que não a fizeram até agora? Deve ser essa a pergunta que atormenta os pouco mais de 50% que negaram o voto a FHC. Ou, pior: além de não terem feito a coisa certa, fizeram tanta coisa errada que o país chegou à ``mais devastadora crise econômica e social deste século", conforme o próprio FHC em discurso de 28 de julho último.
Acreditar que os companheiros de viagem de FHC se regeneraram totalmente não é uma questão política, mas teológica. É preciso fé de mais (com perdão do cacófato proposital) para supor-se que todos se converteram ao mesmo tempo e justamente na véspera de um processo eleitoral no qual não tinham candidato viável.
Para que um governo FHC dê certo, será preciso que o presidente eleito torne realidade o que, em Collor, foi apenas retórica. ``Vou deixar a direita indignada e a esquerda perplexa", dizia Collor em mais uma de suas incontáveis mentiras.
Não que a esquerda seja melhor do que a direita ou vice-versa. É apenas para variar um pouquinho, dado que, se a esquerda está cada vez mais perplexa, a direita faz um tempaço que não tem motivos para indignar-se. Se e quando os tiver, talvez dê certo.

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