São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líderes do PT querem barrar radicais

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Aloizio Mercadante, candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu ontem a abertura do PT para setores hoje hostis ao partido.
``Nossa cultura partidária precisa ser mais ampla e arejada", afirmou Mercadante. Como exemplos para o partido, o vice de Lula apontou as seções estaduais do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo.
Não por acaso, os dois Estados citados por Mercadante formam, com o Distrito Federal, as ilhas em que o PT foi bem-sucedido na sucessão de desastres no primeiro turno das sucessões estaduais.
A manifestação de Mercadante se encaixa no debate que se inicia no PT entre os ``sem-voto" que hoje dominam a máquina burocrática do partido e os setores que saem fortalecidos da eleição pelo respaldo das urnas.
Na entrevista que concedeu ontem, sintomaticamente Lula fez questão de ter ao seu lado petistas bem-sucedidos na eleição ou com boa imagem na opinião pública.
Estiveram ao lado de Lula, Benedita da Silva (virtual senadora pelo Rio), José Dirceu (dono de votação surpreendente em São Paulo), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (presidente da CUT), e Mercadante.
O vice de Lula pretende viajar pelo país para ajudar a construir o partido em Estados em que ele ainda se revela frágil, como atestam os números da eleição. ``Em alguns Estados, o PT não tem inserção na sociedade civil e isso tem que ser modificado", disse.
O PT dos Estados em que o pouco vigor eleitoral do partido ficou evidente são dirigidos na maioria por grupos de esquerda e extrema-esquerda da legenda. Em alguns casos, insistiram em candidaturas próprias suicidas, contra a opinião de Lula.
Existe um esforço da cúpula petista para que a discussão interna não saia do controle. Lula irritou-se com o senador Eduardo Suplicy, que também defendeu mudanças no PT.
A tentativa de ``abafar" a explosão da crise levou o PT a adiar para a próxima semana a reunião do Diretório Nacional que vai fazer o balanço político da eleição. O encontro estava marcado para começar na próxima sexta-feira.
O presidente do PT, Rui Falcão, pediu a alguns líderes do partido que façam relatórios para analisar as razões da derrota de Lula. Falcão é líder do grupo de esquerda que dirige a legenda desde meados de 93.
Na outra ponta do espectro petista, o deputado José Genoino declarou que está disposto a voltar ao debate interno, do qual se afastou após obter apenas 10% dos votos nas últimas convenções do partido.
``Agora tenho maior pique para fazer uma disputa interna civilizada", disse Genoino. '
Marco Aurélio Garcia, um dos petistas mais próximos de Lula, acha que o futuro da linha petista está também ligado diretamente ao desempenho do governo FHC.
Garcia vislumbra um ``cenário econômico difícil" para o país. Esse cenário, no entender de petistas ortodoxos, o que não é o caso de Garcia, pode levar o PT à radicalização.

Texto Anterior: O segundo turno de FHC
Próximo Texto: Lula está preocupado com eleição para Câmara
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.