São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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O segundo turno de FHC

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os problemas de Fernando Henrique não terminaram com a eleição. Ao contrário, apenas começaram. Eleito presidente, seu segundo turno será a composição do governo.
O candidato despachava ontem, de seu refúgio, os primeiros recados. Dizia que pretende aceitar a imposição de nomes por critérios exclusivamente políticos.
Fernando Henrique pretende adiar ao máximo a escolha do seu ministério. Inspira-se em Tancredo Neves.
Escolhido presidente pelo Colégio Eleitoral, Tancredo estimulou os aliados a discutirem alternativas de nomes para sua equipe. Sabia que o choque de interesses entre seus aliados eliminaria, de antemão, uma penca de nomes.
Ao final da discussão, teria um contingente bem menor de candidatos. Fernando Henrique, aliás, foi uma das vítimas do esquema idealizado por Tancredo.
Tancredo pensava em nomeá-lo chanceler. A ``fricção" entre os partidos impôs uma mudança de rota.
Inicialmente, Tancredo nomearia Francisco Dornelles, seu sobrinho, para o Gabinete Civil. Mas Affonso Camargo, que sonhava com o posto, esperneou.
Para não contrariar ninguém, Tancredo acabou nomeando o mineiro José Hugo Castelo Branco, caixa de sua campanha, para a Casa Civil.
Affonso Camargo teve de contentar-se com a pasta dos Transportes. Dornelles foi deslocado para a pasta da Fazenda, antes reservada a Olavo Setúbal.
Setúbal, por fim, foi acomodado no Itamaraty. Sem a chancelaria, Fernando Henrique foi brindado com o insignificante posto de líder do governo no Senado.
Hoje, no papel de presidente, Fernando Henrique como que se vinga da má sorte. Observa os atritos que se avolumam à sua volta.
José Sarney, herdeiro do ministério de Tancredo, diz que Fernando Henrique deve compor a equipe livre das amarras partidárias.
A experiência pessoal consolidou em Sarney uma sólida conclusão: não há nada pior para um presidente do que trabalhar com uma equipe com a qual não tenha absoluta afinidade.
No momento, o maior desafio de Fernando Henrique é justamente o de evitar que sua futura administração acabe por sarneyzar-se.
O presidente eleito enfrentará nas próximas semanas a gula do PFL e do PTB, duas legendas que integraram a Aliança Democrática.

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