São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Africanos buscam refúgio em Santos

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Guerras civis e tribais na África trouxeram para Santos (SP) sete refugiados que entraram no Brasil clandestinamente pelo porto da cidade.
O grupo é formado por três sul-africanos, dois liberianos, um sudanês e um etíope.
Esse último está há três anos na cidade. Eles não têm emprego nem documentação.
Em comum, todos possuem histórias de familiares mortos, perseguições políticas, religiosas e a convicção de não querer voltar aos países de origem. Arredios, o que os africanos mais temem é serem deportados.
``Quero ficar aqui até morrer", afirma Joseph John Jamal, 17, nascido na cidade de Juba, no Sudão.
Um representante do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), o advogado José Henrique Andrade, 25, esteve no último dia 20 em Santos (72 km a sudeste de São Paulo) para tratar da situação dos africanos.
``Eles são solicitantes de refúgio. Podem ser aceitos ou recusados pelo governo brasileiro", afirmou Andrade.
Permanência
O advogado disse que está preparando um parecer sobre cada um dos africanos, que será enviado aos Ministérios das Relações Exteriores e da Justiça, que decidirão sobre a permanência deles no Brasil.
``Em caso positivo, eles receberão uma carteira de estrangeiro, com validade de dois anos, além da carteira de trabalho", disse Andrade.
Ele não soube informar quanto tempo demorará para que cada africano tenha regularizada sua situação jurídica.
Até que isso ocorra, eles recebem ``pouco mais de um salário mínimo por mês".
Em Santos, os africanos são assistidos pelo Conselho Municipal da Comunidade Negra.
``Fazemos um trabalho social e humanitário, visando integrá-los na comunidade", afirmou o coordenador do órgão, José Ricardo dos Santos, 41.
Ele disse que a maior dificuldade é conseguir emprego para o grupo. ``Firmamos um convênio com o Senai, para capacitá-los ao mercado brasileiro. As aulas começam no início do próximo ano."
Para Ricardo, os africanos sofrem com a inadequação ao idioma e com o preconceito ``camuflado" que, segundo ele, o negro brasileiro enfrenta.
``Em razão disso, é fundamental que eles possam trabalhar. Nesse sentido, pedimos o apoio aos empresários que queiram dar uma chance para que essas pessoas possam reconstruir suas vidas", diz Ricardo.

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