São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994![]() |
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Etíope pula de navio e nada durante seis horas
MARCUS FERNANDES
Ele viajava clandestino no petroleiro MT Givana, de bandeira de Malta, e saltou do navio em 15 de julho de 91, a cerca de 10 km da costa de Santos. O pai, médico formado na Alemanha, e a mãe, enfermeira, morreram assassinados por tropas governamentais há 18 anos. ``Eles davam assistência médica a grupos guerrilheiros na Eritréia. Ele tinha 41 anos e minha mãe 39 quando foram fuzilados. Um tio me levou para a Somália. Quem ficou morreu", afirmou. No caminho, o ônibus em que viajava sofreu uma emboscado. ``Recebi um tiro no alto da cabeça. Por sorte, meu tio escapou e me levou a um hospital, onde fiquei dez dias em coma e quatro meses internado". Na Somália, Saimony conta que viveu até os 24 anos em um campo para refugiados, no litoral do país. ``Resolvi fugir da fome e me escondi no petroleiro MT Givana". Nos cinco primeiros dias a bordo, ele não comeu. Bebia a água que escorria pelos canos da casa de máquinas. No quinto dia, quando o navio chegou à Tanzânia, ele saiu do esconderijo. ``Fui ao refeitório e roubei pão e água. Três dias depois, resolvi me entregar ao comandante." Sete dias depois, o navio aportou na Arábia Saudita e de lá seguiu para França, Alemanha, Austrália, Portugal, Espanha, Kuait e Brasil. Em nenhum porto foi concedido asilo ao etíope. ``Fiquei seis horas nadando, tentando alcançar as luzes da praia. Fui recolhido por um barco e fiquei três dias em um hospital." ``Quero um lugar meu para morar, namorada, trabalho e correr a São Silvestre. Africano é bom correndo", disse. (MF) Texto Anterior: Africanos buscam refúgio em Santos Próximo Texto: Pais querem salvar filho Índice |
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