São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Filmes de Hollywood substituem Lorax

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Se tem uma coisa que anda me deixando tiririca é a quantidade de lixo que o cinema norte-americano vem despejando sobre nossas cabeças. Percebi que o fenômeno chegou no limite do tolerável na última segunda, quando fui ao cinema ver ``Adoro Problemas" (I Love Trouble), a mais recente impostura estrelada por Nick Nolte e Julia Roberts, no papel de uma dupla de repórteres absolutamente inverossímil.
Não há ``Schindler's List", ``O Fugitivo" ou outro grande lançamento que o valha que escape à regra: hoje, filme americano só serve como substituto de Valium e Lorax.
Tome, por exemplo, qualquer uma dessas grosserias estreladas por Sharon Stone e Michael Douglas ou, só para nos atermos a dois sucessos recentes, ``Dossiê Pelicano" e ``O Cliente", atualmente em cartaz nos cinemas da cidade.
Por acaso o espectador esclarecido se deu conta de que todos esses filmecos apresentam enredos que são variações de um mesmo tema?
E o que dizer de ``remakes" como esse ``A Fuga" (The Getaway), que também está em cartaz na cidade? Se a versão original de ``The Getaway" já era uma porcaria inominável com estrelas do porte de Steve McQueen e Ali MacGraw, que dirá a nova versão estrelada pelo mais bola murcha dos casais, dona Kim Basinger e seu Alec Baldwin?
Ninguém me demove da idéia de que os entulhos ``made in USA" a que somos expostos no cinema são o resultado de almoços de negócios perpetrados pelos altos executivos da indústria cinematográfica, homens de marketing que ocupam, com a mesma desenvoltura, cargos nos grandes estúdios ou em empresas como a Kellogg's e a Exxon.
São esses gênios da sétima arte que, em vez de filmes, nos oferecem pacotes com retorno garantido. E, quando um desses pacotes apresenta problemas na linha de montagem, basta recorrer aos roteiristas de ambulância, uma casta especializada em remendar histórias com defeitos.
É por essas e outras que, nos dias de hoje, filmes mornos como ``Quatro Casamentos e Um Funeral" e ``O Piano" são tidos como obras-de-arte.

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