São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Férias para as raquetes

THALES DE MENEZES

Nunca se falou tanto em tentar melhorar o tênis. Os jogos estão chatos, os jogadores também, dizem todos. No meio dessas discussões, uma voz tem usado seu prestígio de lenda viva das quadras para cutucar as feridas dos cartolas do tênis: John McEnroe. O ex-garoto rebelde levanta uma questão crucial no estado das coisas do tênis: férias. Ele afirma que às vezes os jogos são chatos porque os atletas jogam cansados, por causa da falta de um descanso regular.
Para quem não sabe, tenista não tem período determinado de férias. Jogador de futebol tem, piloto de F-1 também. Mas nos últimos 15 anos o tênis mantém torneios nas 52 semanas da temporada.
O problema começou na década de 80. O Australian Open, um dos quatro torneios do Grand Slam, estava desprestigiado nos anos 70. Tinha prêmios pouco atraentes e era disputado próximo das festas de Natal e Ano Novo. Com isso, os principais tenistas do ranking não se mexiam para viajar até o outro lado do mundo numa época em que todos querem estar com a família. Assim, foi estabelecido um período informal de férias.
Nos primeiros anos da década passada, a construção do moderníssimo complexo Flinders Park em Melbourne e a injeção de dinheiro dada pela Ford fizeram o Australian Open voltar a atrair os melhores do ranking. Vários torneios menores disputados na Austrália nas semanas anteriores ao grande evento também foram ficando recheados de estrelas, que buscavam adaptação ao forte calor local. Acabou o descanso.
Teoricamente, um tenista pode escolher seu período de férias. Bastaria fixar uma data. McEnroe, que conhece bem a coisa, explica que não é bem assim. Há compromissos com os patrocinadores, que têm mais interesses em determinados países e acabam guiando o roteiro de torneios do atleta.
Há também a tentação das partidas de exibição. Em casa e sem nada para fazer, fica difícil para o tenista resistir à idéia de ganhar uma grana fazendo uns joguinhos. Mas isso implica viagens, um mínimo de treino e os jogos propriamente ditos, sempre um risco de contusão ou desgaste físico.
Exemplos não faltam. O alemão Michael Stich terminou o ano passado em excelente forma, vencendo o Masters. Mas não descansou. Fez três jogos de exibição entre o Natal e o Ano Novo e mais cinco jogos na primeira semana do ano. Resultado: perdeu na primeira rodada do Australian Open e até agora não voltou à antiga forma.

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