São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Joachim Esteve inaugura pavilhão de arte

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A boa notícia: no próximo dia 11 a cidade ganha um novo espaço artístico. A má notícia: o público não terá acesso ao edifício, uma construção em original high-tech que une tijolos antigos e tubos de aço galvanizado a um telhado de vidro sustentado por uma estrutura de mastros externos.
Projetado pelo arquiteto californiano Charles Sampson Bosworth, 80, autor, entre outras obras, da fábrica da Ericsson em Guarulhos, primeira estrutura pré-moldada da América Latina, e do prédio Eluma na avenida Paulista, o novo pavilhão de arte se esconde dentro de uma propriedade particular de 8.000 m2 no condomínio da Chácara Flora, no bairro de Santo Amaro (zona sul da cidade), e só poderá ser visitado com hora marcada e consentimento expresso do proprietário, o colecionador de arte Joachim Esteve, 54.
``Certos amigos meus gostam de barcos, de cavalos, outros têm em casa quadras de tênis e piscinas", diz Esteve. ``Eu não tenho nenhuma dessas brincadeiras, mas gosto de mexer com arte, de colecionar."
Há quatro anos, quando se dei conta de que possuía mais quadros do que espaço nas paredes, o colecionador resolveu construir um novo pavilhão para abrigar seus ``brinquedos" –uma coleção contemporânea de cerca 400 obras, que inclui peças de artistas norte-americanos, como De Kooning, Frank Stella e Andy Warhol, e os brasileiros Granato, Wesley Duke Lee, Zé Rezende, Aguilar e Gerchmann.
Para projetar o edifício, Esteve recorreu ao velho amigo Bosworth, o mesmo arquiteto que realizara o projeto da casa de seu pai nos idos de 1947, logo depois de ter aportado no Brasil a convite de Jorge e Marjorie Prado para tocar, em dupla com o desenhista do automóvel Studebaker, Raymond Lowy, o projeto do condomínio Jequitimar na praia de Pernambuco, no Guarujá.
``Eu pensava em fazer uma coisa simples", diz Esteve. ``Mas o Charles me veio com uma planta que não pude recusar."
Por ser uma obra sem compromissos comerciais que, segundo o colecionador, ``custou o mesmo que uma quadra de tênis interna", o pavilhão levou quatro anos para ser erigido.
E, segundo Bosworth, apenas uma fecunda noite de trabalho para ser concebido. ``Como sempre trabalhei usando algum tipo de sistema modular. Não foi preciso quebrar a cabeça", afirma o arquiteto.
Bosworth optou por módulos inspirados na proporção áurea, fórmula matemática usada em monumentos da Antiguidade que também pode ser observada nos edifícios retratados nas pinturas de Piero della Francesca.
Em uma visita à Grécia há três anos, Esteve pode constatar in loco a precisão e a idade da proporção 29,28 m por 9,15 m, usada por Bosworth em seu pavilhão. ``A largura do Parthenon, em Atenas, é exatamente o comprimento de meu espaço", gaba-se o colecionador.
Para arquear os tubos de aço que formam a estrutura do teto, o arquiteto usou uma máquina portátil de dobrar canos e curvou os tubos um a um, adaptando-os milimetricamente ao teto durante a colocação. ``Geralmente, edifícios são pensados em centímetros", explica. ``Este espaço foi pensado em milímetros."
A fim de ``despoluir" ao máximo um ambiente em que apenas obras de arte devem sobressair, Bosworth foi a extremos. Criou um sistema pelo qual as colunas de sustentação ficaram do lado de fora do edifício e baniu da construção pregos, parafusos, porcas e ferrolhos: ``Usamos apenas soldas e grampos".
O pavilhão de Joachim Esteve será inaugurado com uma homenagem a outro amigo americano, o artista Neil Williams, morto em 1988.
Williams viveu e trabalhou nos domínios de Esteve na Chácara Flora durante o ano de 1983 e, apesar de ter integrado o grupo de artistas pop norte-americanos dos anos 60 que se notabilizou no mundo todo, nunca foi reconhecido em vida.
Com uma retrospectiva de sua obra e um coquetel para o qual foram convidados antigos companheiros do artista, como Rauschenberg e Chamberlain –que vêm ao Brasil participar da Bienal–, Esteve espera reparar o que considera uma injustiça.

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