São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Maioria encolhida

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Os primeiros números oficiais sobre a eleição presidencial reforçam e muito o argumento utilizado ontem neste espaço sobre o caráter minoritário do voto em Fernando Henrique Cardoso.
Pelo boletim do TSE das 17h, 16,6% dos eleitores votaram em branco ou anularam o voto. Se se somar a abstenção (em torno de 15%, pelos cálculos preliminares), tem-se que cerca de um terço do eleitorado deu às costas a todos os candidatos.
Com isso e mais o voto nos adversários de FHC, o presidente eleito recolhe 54% do total dos votos válidos, que, todavia, encolhem para em torno de 38% do universo eleitoral total. Situação um pouco pior do que a de Fernando Collor, que chegou à Presidência com 42,75% do total de votos possíveis.
O que mais chama a atenção é a triplicação do percentual de votos brancos e nulos na eleição deste ano. Tanto no primeiro como no segundo turno de 89, votaram em branco ou anularam o voto cerca de 5% dos votantes (5,67% no primeiro turno e 4,99% no segundo).
Claro que dois fatores devem ter contribuído para o aumento. Um, o quase ineditismo da eleição anterior (não se votava para presidente desde 1960). Outro, o fato de a eleição ter sido apenas para presidente, portanto com apenas uma cédula. Agora, foram duas, com cinco tipos de votos (presidente, governador, senador, deputado federal e estadual).
Note-se que, entre os eleitores residentes no exterior, teoricamente mais preparados, os votos nulos e brancos ficaram até abaixo de 89 (3,99%), ao passo que, em Estados de maior número de analfabetos, chegaram a quase 35% (Piauí, com 34,78%).
Todas essas ressalvas não impedem que se constate, de novo, a dificuldade de se aglutinar a maioria do eleitorado em torno de alguma candidatura e, por extensão, da proposta por ele encarnada.
Na prática, isso significa que a campanha eleitoral não pode ser dada por encerrada. Para arrastar uma maioria de fato, o presidente eleito ainda vai ter que vender suas propostas, agora detalhadas, de preferência no período que vai da proclamação dos resultados até a posse.

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