São Paulo, quinta-feira, 6 de outubro de 1994 |
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Sem concorrência
JANIO DE FREITAS Com 36 dias de antecedência, e antes mesmo de entregues as propostas das construtoras, a Folha registrou a que seria dada como vencedora –o que aconteceu ontem– na concorrência para a construção de quatro prédios encomendados pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio, recuperação estrutural de dois já existentes e reforma de todos os utilizados pelo Judiciário fluminense. O conjunto de obras está sendo contratado por R$ 47,471 milhões, ou US$ 55,850 milhões.Os comprometidos com o desvirtuamento da concorrência fiscalizaram em vão os anúncios classificados dos jornais. O nome da vencedora foi publicado aqui mesmo, em nota sobre a própria concorrência, em 31 de agosto. Dizia que, ``embora o expressivo valor que (o Tribunal) se dispõe a pagar, equivalente a US$ 50 milhões, e seja muito grande o número das construtoras capazes de fazer as obras, relativamente poucas se dispuseram a concorrer. O interesse inicial foi numeroso, mas logo sobrevieram as desistências sucessivas. As acusações ao edital são muitas". No último parágrafo, a nota observara que ``uma coisa é certa: se empreiteiras recusam, geralmente encontraram nebulosidades". A coisa certa era o nome da vencedora da futura concorrência, bastando unir as iniciais de cada palavra da frase: s-e-r-g-e-n. A concorrência criou uma situação exótica desde o seu lançamento. O edital estabeleceu condições muito questionáveis, em relação ao que determina a nova Lei das Licitações. Mas o recurso judicial contra tais condições teria que ser apresentado ao mesmo Judiciário que emitira o edital e promovia a concorrência. Daí que, das tantas dezenas, senão centenas capazes de realizar as obras licitadas, inscreveram-se apenas sete e só cinco ``concorreram". A divulgação do resultado agrava o exotismo da situação, dado que o desvirtuamento da concorrência, agora comprovado, tem como uma das partes o próprio poder institucional incumbido de proteger judicialmente a sociedade e o dinheiro público contra tal prática. Manipulação A queda do preço dos combustíveis foi a grande manchete de ontem pelo Brasil afora. Mas nenhum dos textinhos que a acompanhavam nas primeiras páginas, pelo menos as da chamada grande imprensa, trazia a habitual referência comparativa ao antigo e ao novo preço. É que, se confrontados os dois valores, como sempre foi feito nas variações de preço, evidenciava-se que a redução anunciada é um engodo, e engodo não deve ser manchete. A redução resulta em menos R$ 0,011 por litro, um centavo. Em um tanque de 50 litros, você fará a estupenda economia de R$ 0,55. Depois os jornalistas se exaltam quando as cartas dos leitores os acusam de manipular as informações. E a opinião pública. Ou, o que dá no mesmo, manipular o leitor que paga o jornal e, assim, o salário do jornalista. Sósia Repare bem: Sérgio Motta, o sócio de Fernando Henrique Cardoso, é PC Farias de cabelo branco e com uns anos a mais –o que também quer dizer com mais experiência. Texto Anterior: Acaso e conveniências se aliam Próximo Texto: STF suspende artigo do Estatuto dos Advogados Índice |
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