São Paulo, quinta-feira, 6 de outubro de 1994
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Fim ao acordo dos carros

LUÍS NASSIF

Para não se transmutar rapidamente em "ceariliense" –filho de ferrabrás cearense com amanuense brasiliano– o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, deveria cuidar de falar menos e agir mais. "Canalhices", "um cadáver por dia", "prendo e arrebento" já fazem parte da antologia nacional do papo-furado.
Há uma especulação pesada com feijão. Existem na praça 700 mil toneladas de estoques, mais que suficiente para garantir o consumo nacional (de 250 mil toneladas mensais) enquanto não vem a nova safra. Portanto, o que ocorre é caso de polícia, não de mercado. Uma chave de braço e esses especuladores abrem o bico e serão obrigados a desovar o feijão em dois tempos.
O segundo ponto essencial é a questão do ágio nos carros populares.
Já é hora de se repensar o acordo da câmara setorial da indústria automobilística. Na ocasião, o governo abriu mão de impostos convencido da necessidade de se baixar os preços dos carros populares, permitindo aumento de vendas e dos ganhos de escala.
Alguns analistas alertaram para o risco de consolidar um pacto corporativo, que trocasse a redução de impostos por ganhos para as partes –em detrimento do consumidor e do aumento da produção. Outros, mais crédulos (como o colunista), acreditaram que o setor já estava maduro para acordos civilizados.
Obviamente, não está. A redução dos tributos está sendo apropriada pela rede concessionária na forma de cobrança de ágio.
Se não se matar a cobra no berço, o ágio se alastra, já que os comerciantes que estão atuando corretamente se sentirão desestimulados, vendo os lucros sem riscos dos colegas contraventores.
Não há o que discutir. O acordo está sendo solapado pelo próprio setor privado. São culpados tanto os contraventores quanto os avalistas diretos do acordo –montadoras e sindicatos.
Aumentando novamente os tributos, trocar-se-ia esse dinheiro da contravenção por impostos, já que o preço final será o mesmo. Apenas tira-se o lucro fácil dos contraventores e aplica-se na saúde. Como o consumidor continuará pagando o mesmo preço pelos veículos, o setor não perde vendas –apenas o lucro ilegítimo e o respeito da opinião pública.

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