São Paulo, quinta-feira, 6 de outubro de 1994 |
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Só corrida de bigas salva 'Ben-Hur' mudo
SÉRGIO AUGUSTO
Wyler a conhecia de cor e salteado, pois fora um dos assistentes de Niblo. Ou melhor, um dos assistentes de B. Reeves Eason, o verdadeiro ``metteur en scène" da corrida. Em épicos como ``Ben-Hur", o diretor oficial não costuma apitar nas cenas de massa. Na versão assinada por Wyler, a sequência da corrida foi comandada por Andrew Marton e Yakima Canutt. Qual a melhor? A do ``Ben-Hur" mudo. Além de original, nada fica a dever em acabamento e espetaculosidade à do ``Ben-Hur" falado e colorido. No mais, tirante a corrida, as batalhas navais e a etérea beleza de Betty Bronson como Virgem Maria, é osso duro de roer: teatral, arrastado, enfadonho. Um filme para uso exclusivo de antologias. E não apenas daquelas dedicadas a cenas de ação. ``Ben-Hur" também fez história pelas confusões que tumultuaram sua produção na Itália de Mussolini. Sua primeira eminência parda foi a roteirista June Mathis, cuja palavra, na época, era lei em Hollywood. Por insistência dela, pagou-se ao general Lew Wallace, autor do romance, o que ele exigia pelos direitos de filmagem: US$ 1 milhão. Também a pedido de Mathis, George Walsh foi contratado para encarnar Ben-Hur, ficando Francis X. Bushman com o papel de Messala e Charles Brabin, cuja maior glória era ser marido de Theda Bara, com a direção. Nada deu certo. Primeiro foram as greves, quase diárias, dos operários contrários ao governo fascista. Quando descruzavam os braços, os técnicos italianos deixavam muito a desejar em eficiência e rapidez. Entraves burocráticos e incúria logística prejudicaram por completo a filmagem da primeira batalha naval, rodada em Anzio. ``Isso é um lixo", comentou Louis B. Mayer ao ver a pífia qualidade dos cenários, da maquiagem dos atores e do guarda-roupa. E decretou que teriam de recomeçar do zero. Com um novo diretor (Niblo), um novo roteiro (confeccionado por Bess Meredyth e Carey Wilson) e um novo galã (Ramon Novarro). As novas cenas de batalha, feitas em Livorno, resultaram ainda mais desastrosas. Nas primeiras, ao menos, nenhum extra morrera afogado. Não menos penosa foi a filmagem da corrida, durante a qual dezenas de cavalos foram sacrificados. Para nada, pois logo a cúpula da Metro concluiu que a única maneira de salvar ``Ben-Hur" era rodar todas as suas cenas em Hollywood mesmo. E assim foi. Numa réplica do Circus Maximus, desenhada por Cedric Gibbons e A. Arnold Gillespie, a corrida foi afinal encenada, contando no primeiro dia com um elenco ``all star" na platéia: Douglas Fairbanks, Mary Pickford, Lillian Gish, John Gilbert, entre outros. O resto deu menos trabalho. Mas nem por isso tomou menos tempo. ``Ben-Hur" demorou tanto para ser concluído que no meio das filmagens seu guarda-roupa já estava fora de moda. (Sim, você já ouviu esta piada antes, a propósito de ``Cleópatra", versão Liz Taylor.) Ao faturar pouco mais que o dobro de seu custo (US$ 4 milhões), ``Ben-Hur" livrou a nascente Metro de uma débâcle. Não a livrou, porém, de problemas com Mussolini, que, furioso com a derrota do romano Messala para o judeu Ben-Hur, baniu o filme das telas italianas. Os chineses também o censuraram. Por motivos religiosos. Para eles, ``Ben-Hur" era pura propaganda, do cristianismo e de superstições incômodas às crendices orientais. Vídeo: Ben-Hur Direção: Fred Niblo Produção: EUA, 1926 Elenco: Ramon Navarro, Francis Bushman, Carmel Myers, May McAvoy Duração: 130 min Lançamento: Continental (tel. 011/284-9479) Texto Anterior: Museu da Casa Brasileira reúne móveis da Marcenaria Braúna Próximo Texto: 'A Escolta' mostra 'intocáveis' sicilianos Índice |
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