São Paulo, quinta-feira, 6 de outubro de 1994 |
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Inútil queima de miolos Nas últimas duas semanas os preços de alimentos, no atacado e depois no varejo, passaram a exibir uma tendência de alta. O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, já admite que em outubro a inflação ficará em pelo menos 2%, praticamente o dobro de setembro. E a cesta básica superou nos últimos dias a marca dos R$ 100, ameaçando retornar aos níveis de antes do Plano Real. São más notícias. Há pelo menos duas atitudes possíveis diante delas. Uma é partir para medidas compensatórias. Outra é deixar o tempo passar e ir, como se diz, ``empurrando com a barriga". O governo parece disposto a lançar iniciativas que se contraponham às pressões inflacionárias. A redução no preço dos combustíveis é uma, a desburocratização das importações é outra. Ao mesmo tempo, o ministro Ciro Gomes declara-se seduzido pela idéia de mais à frente talvez excluir dos índices os aumentos exagerados. É a tese de que a inflação tem um ``miolo" ou núcleo em oposição a fenômenos superficiais ou passageiros que não deveriam ser automaticamente incorporados ao índice oficial –como na célebre inflação do chuchu. A proposta de que a inflação seja de quando em quando expurgada não é nova e é sempre defendida pelas autoridades nos momentos em que o índice incomoda. Nesse contexto, por melhores que sejam as intenções, elas soam a manipulação. É a velha tentação de mexer no termômetro para baixar a febre. A inflação de outubro é real. A política econômica está diante de um desafio concreto, que é o de garantir por meios objetivos que a inflação não volte a subir perigosamente. O simples fato de que a inflação ainda está baixa acrescido da possibilidade que o governo tem de usar vários instrumentos para reforçar a estabilização já deveria servir para descartar a alternativa da acomodação, do esperar para ver como é que fica. Cabe ao ministro da Fazenda zelar pela consistência do programa econômico, evitando queimar os miolos em incursões –mesmo que meramente retóricas– por teorias exóticas. Texto Anterior: Contrato coletivo Próximo Texto: No ventre da serpente Índice |
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