São Paulo, quinta-feira, 6 de outubro de 1994
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Segura na mão de Deus

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – ``Esse sujeito não pode virar governador de São Paulo", disse FHC de seu refúgio, numa conversa telefônica com um assessor. No caso, o ``sujeito" tem nome: Francisco Rossi, possível candidato de Mário Covas no segundo turno, mais conhecido nacionalmente pelo hino religioso ``Segura na mão de Deus". É a primeira dor de cabeça do futuro presidente.
A opinião de FHC sobre Rossi é a pior possível, por sua exploração barata da religião. Mas tem dúvidas sobre até onde e como poderia ajudar o correligionário. Por isso está a ponto de rezar com a intensidade de um Rossi para que Covas ganhe o governo de São Paulo no primeiro turno. FHC gostaria de aproveitar o tempo para montar seu governo, preparar planos administrativos e encaminhar projetos no Congresso. Ao mesmo tempo, gostaria de cultivar a imagem de magistrado.
Ao entrar em campanha, estará, necessariamente, arrumando inimigos em vários Estados. Se entrar na briga em SP, qual argumento utilizaria para recusar outros convites? Em Minas, o PSDB tem um candidato, mas também recebeu o apoio de Hélio Costa.
Lembre-se que as disputas em segundo turno costumam ser mais radicalizadas, quando se aplica ainda mais o jogo sujo. E, ao se meter, é capaz de sobrar algum tiro para seu lado –especialmente, como se prevê, caso o plano econômico exiba fragilidades depois de sua eleição.
Pegue-se o exemplo de Brasília. FHC está mais próximo, por afinidade intelectual, de Cristovam Buarque, do PT, do que Valmir Campelo, da coligação que o ajudou na campanha presidencial.
Como se vê, presidente, acabou o descanso.
PS – Por falar em tiroteio, o documento secreto que orientou a campanha de Fernando Henrique mostra que os tucanos preparavam-se preventivamente para a eventualidade do jogo sujo. À página 22, existe o item ``munição", onde se recomenda: ``Providenciar e organizar todas as informações, dossiês, contradições, fotos, imagens ou discursos referentes aos adversários, particularmente Lula e Quércia".

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