São Paulo, sexta-feira, 7 de outubro de 1994
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Aparente furacão

SÍLVIO LANCELLOTTI

Acalme-se quem torce por uma crise fatal no futebol da Itália. Não vai provocar muitos danos o aparente furacão que envolveu, esta semana, praticamente todos os maiores clubes do país –17 dos 18 da Série A, 16 dos 20 da Série B e um da Série C-1. A visita aos clubes pelos fiscais da Polícia Financeira faz parte de um procedimento regular, padrão.
Não aconteceu nenhuma intervenção especial, nenhuma punição, nenhum tumulto particular. Os clubes, na verdade, já sabiam da visita, esperavam por ela como uma consequência natural e inevitável de um processo legal. Na Bota atual da ``Operação Mãos Limpas", a Justiça funciona transparentemente. Funciona e cumpre a sua obrigação de investigar –mesmo as denúncias alimentadas pelo rancor.
O caso nasceu de uma ``vendetta", obra e desgraça de um certo Francesco Farina, dono do Modena, um time rebaixado à 3ª divisão. Farina tentou salvar o Modena na política e no tapetão. Obviamente, não conseguiu. Por isso, metralhou Antonio Matarrese, presidente da federação.
Farina acusou os clubes de sonegarem impostos com a cumplicidade da federação. Para multiplicar o porte das suas denúncias, ele apresentou as suas perorações em dois sítios diferentes, às procuradorias de Roma e de Milão. Muitas delas são inconsequentes, improváveis, sem documentação. De todo modo, na Bota, à Justiça cabe a missão de investigar, antes de meramente julgar. Gloria Attanasio, magistrada da capital, meramente decidiu o que a sua função lhe exigia, e enviou 250 detetives às sedes dos tais 34 clubes para, lá, coletarem os livros contábeis e os recibos correspondentes ao versamento dos impostos.
Ocorre que a federação dispõe de um organismo inatacável, a Covisoc, comissão de vistoria dos compromissos fiscais das agremiações. Apenas recebem as licenças de participação nos campeonatos da Itália aquelas equipes aprovadas pela Covisoc. No fim das contas, eu não duvido, se provará a lisura da Covisoc e da federação, contra a irresponsabilidade adolescente de Francesco Farina.
O próprio Farina, aliás, já admitiu, pateticamente: ``Eu ficaria quieto se a federação mantivesse o Modena na Série B". Na procuradoria de Roma, ontem, já se falava no arquivamento do caso.
Sobram do episódio uma lição e um exemplo. No Brasil não existe nenhum sistema de controle efetivo das contas da CBF e das federações estaduais. Por quê?

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