São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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O ``novo" Pefelê

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Alguns integrantes da cúpula do PFL começam a defender a ``modernização" do partido. Querem livrar a legenda da pecha de fisiológica.
Não se trata de um simples movimento de conversão aos melhores valores éticos. Trata-se, acima de tudo, de uma questão de sobrevivência.
Embora deva manter sua importância relativa nos corredores do Congresso, o velho pefelê está prestes a emergir das urnas estaduais como um derrotado.
Em 1990, o partido elegeu nove governadores. Agora, disputará o segundo turno com chances em apenas três praças: Maranhão (Roseana Sarney), Bahia (Paulo Souto) e Piauí (Átila Lira).
Espraia-se pela chefia do PFL a impressão de que o partido perderá espaço se não mudar a sua fisionomia. Personagens como Luís Eduardo Magalhães mostram-se convencidos de que é preciso lapidar a imagem da legenda.
Não fosse pelo faro aguçado de seus caciques, que indicou Fernando Henrique como um bom aliado, o PFL estaria hoje em maiores apuros.
Mas a sociedade com o PSDB não assegura ao partido um futuro confortável, acreditam os pefelistas mais atentos. O próprio Fernando Henrique não perde oportunidade para realçar as deformidades de seu aliado.
Durante um encontro com artistas, perguntou-se ao candidato tucano por que decidira unir-se ao PFL antes mesmo de mergulhar na campanha. A resposta foi incisiva.
``Precisei fazer a aliança antes porque, depois, ia custar mais caro no Congresso", disse Fernando Henrique, referindo-se à fisiologia.
Os pefelistas acham que não há o que alterar no discurso que professam. Crêem que as teses liberais, fortificadas no Brasil desde a gestão Collor, crescem em todo o mundo.
Por esse raciocínio, a mudança precisaria alcançar apenas os hábitos do PFL. A gula por cargos, por exemplo, teria de ser contida. Decidiu-se inclusive evitar cobranças públicas a Fernando Henrique.
Parece fácil. Mas, se bem-sucedida, a dieta a que se propõe o PFL, em plena fase de composição de governo, corresponderia a uma revolução.
Diante de um organograma da máquina pública, o pefelista tende a comportar-se como gordo à frente da geladeira. É difícil, quase impossível conter-lhe o apetite.
Basta que Fernando Henrique ignore o parceiro ao preencher os ministérios para que a ``revolução" do PFL seja adiada. O partido julga-se, a propósito, credor de pelo menos três ministérios.

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