São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Psiquiatra recusa tese de crime calculado

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pessoa que mata a irmã, o pai, a mãe e os avós não pode ser considerada normal, diz o psiquiatra José Alberto del Porto, professor adjunto de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina.
A constatação pode parecer óbvia, mas ganha importância quando policiais afirmam que os crimes cometidos pelo estudante Gustavo Pissardo foram obra de um criminoso comum, frio e calculista.
O aparente estado de normalidade de Pissardo reforça a perplexidade da opinião pública diante do caso, constata Del Porto.
``Mas o que essa pessoa fez não é compatível com o estado de normalidade. Deve ser possível encontrar uma patologia dentro dela", diz.
Por razões éticas, Del Porto não se arrisca a sugerir um diagnóstico.
Mas o psiquiatra insiste que, muitas vezes, ``não encontrar indícios de anormalidade não significa que não exista patologia".
Por esse raciocínio, os exames a que Pissardo está sendo submetido podem não identificar a natureza do distúrbio mental, mas ele seria portador de algum, diz Del Porto.
Desde o século passado, a psiquiatria se preocupa em tentar diagnosticar pacientes aparentemente normais, mas capazes de gestos de loucura e violência extremada, diz o psiquiatra.
O francês Jean-Étienne-Dominique Esquirol (1772-1840) designou como ``monomania homicida" a patologia que ele não conseguia diagnosticar, mas tinha certeza existir, em homens aparentemente sãos que cometeram homicídios violentos.

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