São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Oportunidades e desafios de FHC

ANTONIO KANDIR

Aconteceu o que todas as pesquisas indicavam: FHC tornou-se o novo presidente da República sem segundo turno. Em que condições irá governar?
Começo lembrando que, desde o fim do regime autoritário, nenhum presidente assumiu em condições tão favoráveis quanto às que cercam FHC. Sarney recebeu o mandato por força da morte de Tancredo Neves, eleito indiretamente com o apoio de uma aliança excessivamente heterogênea. Collor elegeu-se por margem pequena de votos, num segundo turno fortemente polarizado, com o apoio receoso das elites e sem respaldo político consolidado.
FHC chega à Presidência com a legitimidade de um mandato alcançado com a maioria absoluta dos votos válidos. Reúne largo apoio na sociedade, desde as camadas de baixa renda até as elites, incluída a classe média, e tem bom trânsito internacional. Além disso, está em condições de construir boa base de sustentação parlamentar, sem incorrer no ``toma lá, dá cá" da Nova República.
A seu favor, tem ainda o fato de parte importante dos quadros que irão compor sua equipe já estar inserida na administração federal, tendo acumulado conhecimento prático e capacidade operativa fundamentais ao sucesso de qualquer governo, em especial de um empenhado em fazer reformas estruturais do setor público.
No campo econômico, também sobressaem os elementos positivos. Embora haja muito a fazer, o processo de estabilização já está em andamento, e com sucesso. Nada mais distante do quadro econômico que marcou a última sucessão presidencial, marcado pelo descontrole financeiro do Estado e iminente hiperinflação.
Acresce que os últimos cinco anos marcaram um grande avanço do setor privado, que passou a se ajustar às exigências de produtividade e qualidade, sob a pressão da abertura econômica, estando pronto para novo ciclo de crescimento.
Para completar, os ventos da economia mundial sopram a favor. Já está superada, exceto pelo Japão, a recessão do início dos anos 90. Quanto ao investimento externo, fundamental para financiar o crescimento, a vitória de FHC e a escassez de alternativas de valorização elevada do capital em outras regiões do mundo resultarão em aumento substancial do fluxo de recursos externos para o Brasil.
É engano, porém, supor que já estejam dadas todas as condições para o êxito do novo governo. A chance de aproveitar as oportunidades do cenário nacional e internacional depende das condições políticas para o exercício do governo. E essas condições ainda não estão inteiramente claras.
Não estão definidas, por exemplo, qual a natureza e amplitude da sustentação de FHC entre os governos estaduais, visto que, provavelmente, haverá segundo turno nos cinco Estados politicamente mais importantes da Federação (SP, RJ, MG, RS e BA). Somem-se a essa indefinição as incertezas quanto ao perfil do novo Congresso e tem-se um quadro ainda por completar-se quanto à correlação de forças que irá prevalecer no início do governo FHC.
Em vista da indefinição parcial do quadro político, duas coisas me parecem cruciais para fortalecer o impulso consistente de reformas que a vitória de FHC torna, mais que possível, provável.
A primeira é a vitória de Mário Covas, Marcelo Alencar e Eduardo Azeredo, nos três Estados-chave da Federação. A segunda é a articulação de um núcleo reformista no Congresso, com competência técnica, capacidade política e espírito público para imprimir ritmo adequado e consistência necessária à reforma da Constituição.
A vitória de FHC foi a melhor notícia política que tivemos em muitos anos. Não há, porém, muito tempo para saboreá-la. De hoje a 15 de novembro e depois até a posse do novo Congresso Nacional há muito o que fazer para assegurar condições políticas realmente favoráveis a que, já de início e com muita força, o novo governo comece as mudanças que o Brasil quer e reclama.

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