São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Mineiros dão o mesmo valor a real e dólar em Governandor Valadares

HÉLCIO ZOLINI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GOVERNADOR VALADARES

O dólar não saiu de cena em Governador Valadares (cidade na região leste de Minas Gerais), apesar de o real estar em vigor há quase três meses.
Há uma convivência entre as moedas americana e brasileira na cidade. O dólar, no entanto, mantém a preferência da população.
A moeda americana tem a mesma paridade cambial em relação ao real –US$ 1 é igual a R$ 1– e continua como principal referência para os negócios.
Na última sexta-feira, a cotação do dólar no mercado paralelo em São Paulo era de R$ 0,87 para compra e de R$ 0,89 para venda.
No comércio de Valadares é possível comprar mercadorias pagando em dólar pelo mesmo valor nominal fixado para o real.
A prática vale também para os mercados imobiliário, de carro e de telefone.
O único segmento que tem apresentado queixas é o dos cambistas, para quem o movimento caiu em até 50%.
Ninguém quer saber de comprar e vender dólares na cidade, cuja economia é praticamente sustentada pela poupança externa conseguida pelos cerca de 40 mil valadarenses que emigraram para o exterior nos últimos anos.
Além de sustentar os familiares dos emigrantes que ficaram no Brasil, o dinheiro é aplicado na compra de lotes, carros e na construção de imóveis.
Cálculos indicam que entram em Valadares, mensalmente, entre US$ 4 milhões e US$ 30 milhões.
A estimativa mais baixa é feita pelo secretário da Fazenda, Ariel Seleme. Embora ele mesmo reconheça que a estimativa é modesta, lembra que o volume é o dobro da receita de US$ 2 milhões que a prefeitura arrecada por mês.
``O dólar nunca vai sair de cena aqui, mesmo agora que o país parece ter uma boa moeda", diz o empresário Jairo Rezende, 57, dono da relojoaria Esperanto.
``Aceito normalmente o dólar. É a nossa referência." Rezende fixa o mesmo preço para suas mercadorias, seja em dólar ou em real.
Para o ex-presidente da Associação Comercial da cidade, Ayr Pinheiro de Freitas, o dólar tem influência muito grande na economia valadarense. Ele explica que o real trouxe ``certo equilíbrio".
Até o vendedor de frutas Édio Correia, 21, aceita a moeda americana para vender espigas de milho ou caixas de morango. ``O dólar é muito bem aceito aqui."
``Não é por não acreditar no Plano Real. Mas por estar escaldado em outras experiências, o valadarense, como bom mineiro, divide suas economias em dólar e real", diz o ex-secretário de Desenvolvimento, Oswaldo Alcântara.

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