São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiros vivem estresse total

CIDA SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um saque eficiente, um bloqueio funcionando, uma defesa atenta e um contra-ataque marcando pontos. Onze horas depois da derrota para Cuba, a seleção brasileira em nada lembrava o time que, na véspera, havia sido eliminado nas quartas-de-final. Simplesmente tudo funcionou: o Brasil venceu a Rússia anteontem por 3 sets a 0 e jogando bem.
Nos jogos anteriores, o que se viu foi um time tenso, desconcentrado e irregular.
Não por acaso, os fundamentos mais falhos foram os que requerem maior concentração: recepção, bloqueio e defesa. Assim, ficou difícil acionar o grande trunfo do Brasil: as variações ofensivas.
Em um Mundial que reforçou a importância do saque como um primeiro ataque, o Brasil também não conseguiu usar em quadra a sua força nesse item. Mais: acabou sendo uma presa dos adversários.
Foi assim no jogo contra a Argentina. A ordem do técnico Daniel Castellani foi arriscar no saque. Seus jogadores acertaram a mão e se tornaram um pesadelo para a recepção brasileira.
O Brasil só garantiu a vitória sobre os argentinos no tie break, quando erro de saque também se converte em ponto para o adversário. A tática de forçar o saque torna-se então arriscada.
Já contra os EUA, o que se viu foi um time impaciente. A eficiente defesa norte-americana acabou irritando os atacantes brasileiros.
Sem paciência com uma defesa que devolvia quase todas as bolas, os brasileiros passaram a errar no que melhor sabem fazer: atacar.
A seleção brasileira não conseguiu colocar em quadra o seu jogo. Perdeu dos EUA e de Cuba.
Apesar disso, no mundo do vôlei há uma certeza, expressa pelo técnico da seleção norte-americana, Fred Sturm: as duas melhores seleções ainda são Brasil e Itália.
Talvez uma das explicações esteja no desgaste das relações entre os jogadores brasileiros. Não é fácil viver sete meses em regime de concentração, por três temporadas seguidas, com as mesmas pessoas.
Um sinal claro disso foram três entrevistas publicadas na semana.
Em uma delas, o levantador Maurício dizia que só iria jogar até a Olimpíada de 96. Em outra, Tande repetia o mesmo discurso. E, em uma terceira, foi a vez de Marcelo Negrão declarar que o Mundial da Grécia é o último que ele disputa. Vale lembrar que Negrão tem apenas 22 anos. O time parece viver um estresse total.
Até 1990, as principais competições no vôlei eram a Olimpíada e o Mundial, que se alternam a cada dois anos. A criação da Liga Mundial, torneio anual, trouxe um novo quadro para o esporte.
Talvez seja o caso de se rever o calendário ou de os técnicos priorizarem uma competição por ano.

Texto Anterior: Dirigente do vôlei diz que a seleção foi melancólica
Próximo Texto: Andretti se despede hoje na Califórnia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.