São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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Dirigente do vôlei diz que a seleção foi melancólica

SÉRGIO KRASELIS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

O presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Carlos Arthur Nuzman, 52, vai ocupar em junho do próximo ano o lugar de André Richer no comando do Comitê Olímpico Brasileiro.
Na presidência da entidade desde 1975, ele diz que o processo de sua sucessão na CBV será encaminhado só em janeiro próximo.
Para ele, a campanha exibida pela seleção brasileira no Mundial da Grécia foi melancólica. ``Fiquei muito decepcionado".

Folha - Existe um consenso entre os treinadores que o Mundial teve um nível técnico baixo. Qual é a sua opinião a respeito?
Carlos Arthur Nuzman -Acho que o Mundial da Grécia foi muito equilibrado. Pela primeira vez apenas uma equipe, os EUA, chegou invicta às quartas-de-final.
Comparado com a Olimpíada de Barcelona não houve inovações táticas ou técnicas. Só a mudança das regras, permitindo o saque de qualquer lugar do fundo da quadra, como no vôlei de praia, trará mudanças, mas não vi regressão.
Folha - O que o senhor entende por mudanças?
Nuzman - Bem, os técnicos terão que criar novas estratégias de jogo, sistemas de defesa e de posicionamento. Todos criticaram a aprovação da regra que permite a defesa com os pés, mas ninguém se preocupou em trabalhar mais, ao contrário do feminino, onde acredito que acontecerá inovações.
Folha - Por exemplo?
Nuzman - No Mundial Feminino, que vamos sediar a partir do dia 21, vejo uma aproximação do que o masculino foi em Barcelona. Aumentará o tempo de bola em jogo. As equipes adotarão mais o saque tático, atacando de trás e espero que isso faça crescer ainda mais a participação da mulher.
Folha - A proximidade entre a Liga e o Mundial não pode ter diminuído o nível técnico?
Nuzman - Não. A Liga Mundial veio consolidar o vôlei no mundo inteiro e o torneio é um dos mais importantes do calendário internacional. Há um maior intercâmbio entre jogadores e a premiação vem crescendo.
Agora, a estratégia das equipes para os campeonatos muito próximos é um problema a ser solucionado em cada país.
Folha - Como o senhor analisa o vôlei do Brasil no Mundial?
Nuzman - A surpresa do terceiro lugar na Liga, depois de campanha impressionante, foi uma decepção para a equipe, bem como a exibição no Mundial, melancólica.
Folha - O senhor acha que a pressão que os jogadores receberam de empresas, fãs, dirigentes e até deles mesmos pode explicar a fraca atuação do time?
Nuzman - Não. Nós já conversamos muito com eles sobre isso. Todos tinham consciência de que isso iria acontecer depois da medalha de ouro na Olimpíada.
Reconheço que a pressão existe, mas o apoio que a seleção brasileira tem hoje não se compara a nenhum outro país e eles sabem disso. Se uns absorveram mais e outros menos essa questão é problema individual de cada um. O preço pelo sucesso não é exagerado.
Folha - O resultado alcançado pelo Brasil em Atenas pode influenciar a Liga Nacional da temporada 94/95?
Nuzman - O retorno dos jogadores da seleção e a vinda de jogadores estrangeiros podem fazer da Liga uma Superliga. Nós temos a vantagem do clima, pois o frio europeu deixa os jogadores arrebentados. Para trazer jogadores estrangeiros, é preciso que as empresas se tornem mais profissionais.
A Federação Internacional de Vôlei estuda uma maneira de compactar as competições de seleções para que os atletas permaneçam mais tempo nos clubes.
Folha - A organização do Mundial o agradou?
Nuzman - Não. Brasil e Japão são atualmente os dois melhores organizadores de eventos do mundo. Por isso, no próximo ano, quando se comemora o centenário de criação do vôlei, a fase final da Liga Mundial será no Brasil e a Copa do Mundo no Japão.
Folha - O senhor se prepara para deixar a presidência da CBV em junho de 95, quando assume o comando do Comitê Olímpico Brasileiro. Já existe um sucessor para o lugar?
Nuzman - Essa questão está sendo pensada. Acredito que na assembléia geral da CBV em janeiro do próximo ano isso fique mais claro.
Folha - O ex-jogador Bernard não seria um dos nomes para exercer a função?
Nuzman - Prefiro não falar em nomes por enquanto.

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