São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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PMDB à deriva

Antes da eleição, já havia razões de sobra para analisar o suculento espólio a ser deixado por um eventual fracasso eleitoral de Orestes Quércia, o candidato do PMDB à Presidência. Afinal, todas as pesquisas indicavam que Quércia sofria de uma profunda anemia de votos, o que inevitavelmente abriria espaço para que outras lideranças tentassem disputar o comando dessa que continua sendo a maior máquina partidária do Brasil.
Passada a eleição, o que se verifica é que o vazio de lideranças no PMDB tende a ser muito maior do que antes se imaginava.
A derrota de Quércia já é uma certeza. Já é igualmente certa a derrota de Barros Munhoz, o postulante do partido ao governo de São Paulo, o que claramente traz dificuldades a um dos principais herdeiros potenciais de Quércia, o governador Luiz Antônio Fleury Filho, padrinho da candidatura Munhoz.
Mas, para tornar ainda mais complexo o xadrez peemedebista, correm risco também os dois outros grupos que se preparavam para tentar herdar o partido. No Rio Grande do Sul, núcleo principal do antiquercismo no PMDB, o candidato Antônio Britto perde pelo menos parte da força que imaginava acumular, ante as dificuldades para vencer o pleito no primeiro turno.
É evidente que Britto mantém boas condições para se eleger governador do Rio Grande, mesmo não o fazendo no turno inicial. Mas era tal a expectativa, no mundo político, de que a sua vitória se daria já em outubro, que a situação atual mina algo de seu capital político.
Idêntico raciocínio vale para o senador José Sarney, o outro possível pretendente à herança peemedebista. Ao contrário do que diziam as previsões pré-eleitorais, sua filha Roseana, candidata pelo PFL ao governo maranhense, enfrentou dificuldades inesperadas no primeiro turno das eleições, resultado ainda mais significativo quando se consideram as circunstâncias.
Roseana teve o apoio do pai, ex-presidente e importante cacique político, do governo estadual e do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso. Nem com tal respaldo conseguiu a vitória esmagadora que se esperava contra o candidato do PPR, Epitácio Cafeteira, tradicional caudilho da política local.
A grande nau peemedebista vai, assim, caminhando à deriva. Perdeu seu capitão e ainda não conseguiu definir quem vai sucedê-lo.

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