São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 1994
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Livros brasileiros não entusiasmam alemães

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A FRANKFURT

``A literatura brasileira não vende bem na Alemanha. Consegue boas críticas nos jornais, mas a maior parte dos livros nem se paga. Acho até uma injustiça, já que há obras tão boas." A avaliação é de Bãrbel Flad, responsável pelo departamento de publicações estrangeiras de uma importante editora alemã, a Kiepenheuer & Witsch.
Mesmo assim, há mais de 40 autores publicados em língua alemã. Dezenove obras foram publicadas especialmente para a feira, pegando carona na publicidade em torno do Brasil, o país-tema desta ``Buchmesse". O recordista em número de títulos publicados ainda é Jorge Amado, mas há 20 anos, outros nomes vêm ganhando os catálogos alemães.
A Suhrkamp, uma das gigantes do mercado, tem em João Ubaldo Ribeiro seu carro-chefe. As vendas de ``Viva o Povo Brasileiro" surpreenderam a editora. Chegaram a 30 mil exemplares de capa dura, sem contar os livros de bolso, que venderam muito mais.
Não me lembro das vendas da edição popular porque não estou preocupada com números. Para nós, o que interessa é a qualidade das publicações", diz Michi Strausfelt, responsável pelas obras latino-americanas da editora. Em outras palavras, publicar estes brasileiros reforça a imagem de prestígio das editoras.
Strausfelt se orgulha de ter ampliado em muito o catálogo de brasileiros este ano. Aproveitando que o Brasil está em destaque, a Suhrkamp publicou 11 títulos brasileiros. Para a editora, só `Os Sertões", de Euclides da Cunha, que levou 12 anos para sair vale por dez livros. As tiragens são limitadas para padrões europeus. Em geral, de 3.000 exemplares. Mas o que conta é incluir a obra no catálogo. Reeditar, segundo Strausfelt, é bem mais fácil –e barato.
Para as editoras , já foi a época em que o leitor alemão buscava algo exótico, ``realismo fantástico" num livro brasileiro. Agora ele buscaria uma história bem contada. Basta dizer que os livros brasileiros mais vendidos pela Viepenheurer são os de Guimarães Rosa.
As opiniões se dividem quando se pergunta sobre o futuro da literatura brasileira depois de todo o alarde em torno do país que se fez nesta ``Buchmesse". Para Strusfelt, a experiência em feiras passadas é de crescimento nas vendas –quando os livros são bons.
Segundo ela, a Suhrkamp já encomendou a tradução de cinco novas obras –cujos nomes ela não adianta– que podem sair no próximo ano.
Mas, na maior parte das editoras, a perspectiva não é tão otimista e a regra é não publicar nenhuma novidade em 95, já que o mercado recebeu muita literatura do Brasil este ano.
A Diá, uma editora alemã, especializada em publicações brasileiras faz uma previsão sombria. Para o editor Helmut Lotz, que tem um sócio brasileiro, é uma ilusão imaginar crescimento nas vendas.
``Quando acabou a feira em que o México foi o tema central, as vendas de livros mexicanos continuou no mesmo patamar. É isso que deve acontecer com o Brasil."
A editora publica livros culinários para conseguir a verba necessária à publicação dos títulos brasileiros.

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