São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1994
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`Ouvia as pessoas gritando antes do barco afundar'

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O pernambucano João José de Oliveira Santos, 35, o Joca, um dos 20 sobreviventes do naufrágio do pesqueiro ``Tunamar", disse à Folha que o naufrágio não durou mais de cinco minutos.
``O vigia Tião entrou no camarote, acendeu a luz e gritou: `Acorda, rapaziada, que o barco tá indo pro fundo.' Logo depois as luzes se apagaram e em cinco minutos o barco emborcou", afirma.
Joca relata que quando sentiu o barco virando, subiu na borda que estava voltada para cima e foi acompanhando o movimento do barco em sentido contrário, até ficar sobre o casco, junto com mais quatro sobreviventes.
Eles ficaram sobre o casco das 2h30 às 6h da terça-feira, quando a embarcação foi ao fundo. De fora, Joca conta que ouvia os que ficaram dentro do barco gritando e batendo no casco para mostrar que estavam vivos.
Antes do ``Tunamar" afundar, três tripulantes ainda conseguiram sair. Ao mesmo tempo, um dos que estavam sobre o casco foi arrastado pelo empuxo do barco afundando e morreu.
Joca disse que ele e outros náufragos boiaram por duas horas até serem salvos por um pesqueiro.
Para boiar, ele contou apenas com a ajuda de algumas varas de bambu.
``O barco tinha tudo, coletes sob os colchões e botes, mas não deu tempo de pegar nada. Não deu tempo nem de pedir socorro."
Em casa, no bairro popular do Gradim, município de São Gonçalo (a 20 km do Rio), ao lado de parentes, amigos e da filha Vanessa, 12, Joca almoçou uma sopa de siri.
Pescador desde os 16 anos, diz que volta ao mar logo que possível. ``É o que sei fazer", afirma resignado.

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