São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1994
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No Segundo Mundo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Pelo menos uma organização internacional de grande porte parece concordar com o mote central da campanha de Fernando Henrique Cardoso, segundo o qual o Brasil não é um país subdesenvolvido; é apenas injusto.
A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Internacional), o clube dos 25 países mais desenvolvidos do mundo, agendou para a próxima quarta-feira, em Tóquio, uma reunião entre seus integrantes e nove DNMEs (iniciais em inglês de Economias Dinâmicas Não-Membros). Entre as nove, o Brasil.
De alguma forma, é o reconhecimento de que o Brasil está no Segundo Mundo, designação que antes servia aos países comunistas e que, agora, bem poderia ser aplicada aos países que estão na ante-sala do Primeiro Mundo.
É também um reconhecimento ao milagre que o Brasil continua operando. Ninguém pense que o convite para o encontro de Tóquio se deve ao Plano Real. Já em 1993 houvera um primeiro encontro do gênero, período em que o país estava mergulhado na superinflação. O milagre brasileiro é justamente o fato de a sua economia não ter perdido o caráter dinâmico mesmo convivendo com uma inflação tão ou mais dinâmica do que a própria economia.
Convém, no entanto, não encher prematuramente o peito de singelo orgulho ufanista. O Brasil está atrasado nesse encontro com o mundo rico. O México já é membro pleno da OCDE desde maio deste ano, embora não seja nem mais rico nem mais desenvolvido nem mais justo do que o Brasil.
Mais: seis das nove DNMEs convidadas (todas asiáticas) já mantêm com a OCDE encontros do gênero desde 89.
De qualquer forma, é um passo avante. Melhor sentar-se com a Alemanha, por exemplo, do que com Botsuana, país que divide com o Brasil a característica de ser o de pior distribuição de renda do mundo.
É bom, entretanto, tomar cuidado com os conselhos dos ricos. A OCDE é tecnicamente impecável, mas, politicamente, é de um conservadorismo atroz. E explicável: rico sempre tem o que conservar. Aqui, há muito mais a revolucionar do que a conservar.

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