São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1994
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Eles são doidos

Cumprir a obrigação não deveria ensejar uma ampla e cara campanha de autopromoção, como vem realizando a Prefeitura de São Paulo a propósito da instalação dos novos semáforos computadorizados.
Investir em inovações tecnológicas que buscam melhorar o trânsito não é nenhum grande feito; é apenas um entre os muitos deveres da administração municipal de uma cidade como São Paulo.
De qualquer forma, a campanha publicitária da prefeitura tem o mérito de chamar a atenção, ainda que na última linha ou nos derradeiros segundos, para um problema com o qual não só os paulistanos, como também a maioria dos brasileiros, convivem já há muito, muito tempo: o sistemático e contumaz desrespeito aos sinais de trânsito.
De fato, um passeio pelas principais ruas e avenidas de uma grande cidade brasileira, principalmente durante a madrugada, faria com que qualquer estrangeiro acreditasse que se encontra num país com hábitos muito estranhos.
O visitante poderia até mesmo crer que, aqui, é no sinal vermelho e não no verde que se deve passar, tal é a frequência com que os semáforos são contrariados. Ao trafegar por uma avenida de trânsito rápido, o forasteiro poderia pensar que os brasileiros tem o inusual costume de marcar, nas placas, apenas a metade da velocidade máxima permitida, pois é absolutamente comum observar carros circulando a 120 km/h quando as placas indicam 60 km/h como limite máximo.
E esses péssimos hábitos ao volante, como a campanha da prefeitura oportunamente lembra, são um desafio à própria inteligência. Semáforos e placas de trânsito não são colocados nas ruas e estradas com a finalidade de cercear as liberdades do motorista; muito pelo contrário, são objetos pelos quais cada cidadão brasileiro está pagando –e muito–, tendo em vista a melhoria da qualidade e da segurança do trânsito. No limite, ``furar" um sinal vermelho equivale a debruçar-se perigosamente sobre o parapeito de uma janela para jogar dinheiro fora.

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