São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1994
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Família inglesa pode se revelar uma excelente anfitriã

Estudante não precisa temer comida ruim e idiossincrasias

EDNEY CELICE DIAS
DO ENVIADO ESPECIAL

June e David. David e June, o casal Williamson. Definitivamente não achava uma boa idéia ficar em casa de uma família durante o curso. Tive uma margem de escolha: casal de passada meia-idade, sem filhos em casa, sem ``pets" (bichinhos de estimação), fumantes.
Temia idiossincrasias, má alimentação, acomodações precárias. Errei. Encontrei pessoas espirituosas, uma casa impecavelmente limpa, privacidade, boa comida e, no final, uma gostosa amizade.
Durante a semana tinha um cotidiano cheio, mas tranquilo. Acordava às 6h30, tomava calmamente meu café, preparado por mim mesmo, composto de queijo, torradas, geléia, bicoitos –dispensava o cereal. Às 7h saía rumo à escola: a caminhada durava dez minutos.
No geral, passava o dia fora da casa, retornava um pouco antes da 19h, quando então era servido o jantar. Em um mês June (nunca Misses June) nunca repetiu um prato. E nunca faltou conversa. Os jantares, agradáveis, duravam uma hora, duas, duas horas e meia e o assunto não acabava.
A crítica ao governo conservador era constante, as lembranças das férias na Espanha, as deficiências do sistema inglês de saúde, meio ambiente, o sentido da vida, a copa européia de futebol... Nada escapava aos olhos amistosos e críticos do simpático casal.
Nunca senti frieza da parte de David ou de June. Quando havia visita de parentes e amigos, deixava-os à vontade. Eles também não insitiam na conversa quando me precebiam cansado. Com o tempo meu afeto por eles cresceu bastante, mas sempre mantive uma atitude profissional, ou seja, cumpria com meus horários e obrigações –não dava motivos a queixas e não tinha do que me queixar.
Na escola faziam questão de frisar que, se o aluno não estivesse se dando bem com sua família, não havia problema. Era só mudar. Mas quase não ouvi críticas. Sempre perguntava aos outros estudantes se eles tinham problemas. Na grande maioria das vezes só ouvi elogios às famílias inglesas.
Na realidade, a presença de escolas de inglês é muito importante para economia da pequena Ramsgate. Aliás, os cursos de idioma em geral formam um setor importante da economia inglesa como um todo. São milhares de estudantes que anualmente frequentam esses cursos na Inglaterra.
A Churchill House, a principal escola desse gênero Ramsgate, procura conscientizar a população para esse fato. Tenta mostrar a importância da presença de alunos estrangeiros para a comunidade.
No geral é bem-sucedida. Mas não é incomum encontrar pessoas que não gostem de estrangeiros numa cidade com o perfil de Ramsgate –portuária, pequena e pobre. Contudo não tive notícia de nenhum acontecimento mais sério que envolvesse estrangeiros.
A cidade é repleta de estudantes de toda a parte do mundo. Europeus, africanos, asiáticos, latino-americanos. Poucos brasileiros.
Mesmo para as pessoas mais inibidas é fácil fazer amizade. A diversidade de nacionalidades faz com que os estudantes se aproximem. A escola promove atividades que facilitam essa aproximação. O fato de a língua comum ter de ser obrigatoriamente o inglês ajuda no aprendizado geral.
Quanto à faixa etária dos estudantes, ela varia dos 16 aos 45 anos, mais ou menos. O clima geral é de solidariedade, amistosidade, festa –e ninguém fica isolado.

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