São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Apesar da crítica, a Bienal é um sucesso

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A disposição da mídia em polemizar sobre qualquer tema constitui um grosso desserviço ao indivíduo que paga para obter informação.
Um exemplo: se eu não tivesse ido à abertura da 22ª Bienal Internacional de São Paulo, mas apenas me informado a respeito nos grandes jornais do país, a Folha incluída, eu estaria agora com a impressão de que a Bienal 1994 é um monstruoso fracasso.
Segundo a imprensa, a mostra falhou por ter obras demais e porque não estava totalmente montada no dia da inauguração. Eu digo: detalhe.
Segundo a imprensa, a escolha do tema ``A Transformação do Suporte na Arte Contemporânea" foi errada. Eu rebato: detalhe.
A mídia prefere se ater a trivialidades, como o fato de que, pasme, a República da Macedônia se retirou da exposição devido a um melindre qualquer, do que noticiar o impacto que esta Bienal está causando na comunidade artística mundial.
Não vi, por exemplo, uma só linha nos jornais destacando a importância das salas especiais –a primeira oportunidade que o público paulistano tem de entrar em contato com o trabalho de monstros como Malévitch, Mondrian e Diego Rivera.
Não vi nos jornais de Sampa nenhuma menção aos comentários entusiasmados de Achile Bonito Oliva.
Pois Oliva, um dos mais conceituados críticos do planeta, se desmanchou em elogios sobre o trabalho do curador Nelson Aguilar.
Para a mídia, parece ser mais relevante se ater às críticas do eventual artista que não conseguiu montar sua obra a contento do que entender o significado didático que uma mostra do porte da Bienal 1994 representa para um país como o Brasil.
Na semana anterior à abertura da exposição, o mesmo Tunga que agora ameaça abandonar a Bienal, o mesmo Tunga que a mídia anda incitando contra a organização do evento me disse textualmente: ``Antes mesmo de ser inaugurada a Bienal já é um sucesso."
Enquanto o mundo inteiro se deslumbra com o megaevento realizado em São Paulo, a recalcada mídia tapuia se utiliza da exposição para mostrar que é ``up to date".
E, sem um mínimo de critério ou responsabilidade, sai cuspindo mesquinharias disfarçadas de informação relevante.

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