São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Júnior, 5, desiste de ir aos jogos

HEIDY VARGAS
DA FOLHA SUDESTE

``Nunca mais volto a um estádio de futebol." Essa é a lição que Enivaldo Joel Gomes Júnior, 5, tirou da primeira vez que foi ver um jogo ao vivo.
Vítima da pancadaria entre as torcidas do Corinthians e Guarani, quarta-feira em Campinas, Júnior foi derrubado, pisoteado e chegou até a pensar que seu pai havia morrido.
E Júnior nem é corintiano. Torce para o São Paulo. Só viajou para Campinas (mora em Americana, a 30 km) porque sua mãe, Auriana Aparecida Pereira Gomes, 29, insistiu para que o pai o levasse –afinal, disse ela, era Dia da Criança.
Em princípio, Enivaldo Joel Gomes, 31, chefe de escritório, também são-paulino, iria ao jogo sem o filho, atendendo a convite de amigos corintianos.
``Tudo começou quando os torcedores entraram no estádio. Um deficiente físico, que estava ao meu lado, tremeu de medo. Achei melhor descer o homem para um lugar mais seguro", diz Gomes.
``Eu gritava para a torcida ter calma, mas nada adiantou." Quando Gomes voltou para encontrar seu filho, ambos foram derrubados e pisoteados. ``Caí em cima do Júnior para protegê-lo e quando consegui levantar senti uma forte dor no peito e na nuca."
Gomes diz que em certo momento perdeu os sentidos –como mostra a foto feita pela Folha. Foi socorrido e levado a um hospital, quando foi separado do seu filho –que foi encaminhado à polícia. Ontem, só se lembrava de ter segurado muito forte no braço do menino.
Mesmo 24 horas depois de medicado, Gomes ainda manca e sente muita dor no peito, na perna e na nuca. ``Fiquei tão nervoso por causa do meu filho. Pensei até que ele ia morrer", disse Gomes, um dos 22 feridos no tumulto ocorrido no estádio Brinco de Ouro, que pertence ao Guarani.

Outros feridos
Sérgio Francischini, 19, o outro ferido em estado grave, continua em coma no Hospital Irmãos Penteado. Segundo o boletim médico, ele continua na UTI.

Com a Redação

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