São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Data e paciência

SÍLVIO LANCELLOTTI

Com a média de quase 2,9 tentos em 17 partidas, foi aparentemente generosa a segunda super-rodada da Eurocopa-96. Apenas aparentemente. Nada menos do que 47 seleções disputam a fase eliminatória do certame –metade delas sem nenhuma eficiência, sem nenhuma competitividade.
Quando os torneios eram efetivamente seletivos, o País de Gales não perderia da Moldávia, 2 x 3, mesmo como visitante; a República Tcheca não sairia de Malta a lastimar um empate de 0 x 0; em seus domínios a Rússia faria bem mais do que 4 x 0 em San Marino.
E não se trata de saudosismo, mas de uma aritmética constatação. Quanto mais times participam de um torneio, mais fragilidades aparecem e, para contorná-las, mais retrancas se preparam. Os dois melhores jogos da jornada da Euro exibiram equipes equivalentes: em combates abertos, a Suíça bateu a Suécia por 4 x 2, a Dinamarca venceu a Bélgica por 3 x 1.
O excesso de pelejas também diminui a média de público. No Praterstadion de Viena, onde cabem 70.714 espectadores, apenas 20 mil presenciaram o insucesso da Áustria, 1 x 2, diante da Irlanda do Norte. No campo da Landsowne Road de Dublin, onde cabem 52 mil, meros 33 mil viriam o elenco do Eire, ou República da Irlanda, sobrepujar o inexistente Liechtenstein, 4 x 0.
A multiplicidade de produtos à disposição faz os seus preços desabarem. Em paralelo, na comparação, crescem os méritos daqueles de excelente qualidade. Por que na Euro ou em qualquer campeonato não se estabelecem eliminatórias em pirâmide, inicialmente desbastando os times mais fracos e preservando os melhores dos esforços exagerados?
A Uefa, a entidade que comanda o futebol na Europa, já percebeu o seu erro grave, igualar a França e o Azerbaijão, a Itália e Chipre, a Espanha e as Ilhas Faeroes –estas, aliás, nem um estádio possuem e toda a sua população, seguramente, não daria para preencher, por exemplo, as arquibancadas do Pacaembu.
O torneio atual, adicionado às eliminatórias e à fase final da última Copa, servirá para a montagem de um ranking continental. A partir de tal ranking, se desenharão as futuras disputas da Europa. Um bom modelo para a América do Sul, que ostenta só dez nações afiliadas à Conmebol e, ainda assim, pensa grotescamente em realizar as suas eliminatórias para a Copa da França na base de todos contra todos. Haja datas. Haja paciência.

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