São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Vergonha

Se o voto é o mecanismo pelo qual a vontade da população se manifesta, e se é essa vontade que o sistema democrático pretende identificar e levar ao poder, então qualquer ameaça à integridade do voto deve ser tratada como uma ameaça à própria democracia. Tanto é que qualquer país cujas eleições são marcadas por suspeitas de fraude não-esclarecidas é visto, no mundo desenvolvido, quase que como uma meia-democracia.
Assim, as acusações de irregularidade que vêm surgindo em alguns pontos do país devem ser investigadas com inexcedível rigor e urgência. No Rio, por exemplo, o corregedor eleitoral qualificou as fraudes de ``gigantescas" e o Tribunal Superior Eleitoral foi forçado a fazer uma espécie de intervenção branca. Também na Bahia, para citar só mais um caso, dúvidas intrigantes foram levantadas sobre a lisura das apurações. São suspeitas que, enquanto durarem, constituem motivo de vergonha para todo o país.
Deve-se notar, contudo, que o esclarecimento das acusações e a punição rigorosa dos eventuais responsáveis são necessários, mas não suficientes. Afinal, se houve fraude, é porque o mecanismo de votação e apuração do país abre uma brecha para isso. Na verdade, abre uma imensa porta.
Por maior que seja a fiscalização, enquanto votos forem contados e boletins preenchidos manualmente, a possibilidade de irregularidades, e mesmo de erros involuntários, persistirá. É preciso modernizar todo o sistema eleitoral.
Ninguém ignora as respeitáveis dificuldades logísticas e de custos envolvidas numa reforma de proporções nacionais, mas a tecnologia moderna oferece diversas alternativas –como, por exemplo, o voto via cartão magnético em agências bancárias, quase ubíquas hoje no país– que devem ser estudadas com cuidado, mas com celeridade. Trata-se afinal de um investimento na própria democracia.

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