São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Imbecis

Uma criança chora. Ela toca a mão de um homem, desfalecido. Pai e filho aproveitaram o feriado de anteontem –Dia da Criança– para ir ao estádio assistir a uma partida de futebol. Pretendiam divertir-se um pouco. Acabaram encontrando dor e sofrimento.
É claro que lamentáveis episódios de violência urbana podem ocorrer, de quando em quando, em qualquer país do mundo. Contudo, a frequência com que se registram cenas da mais cruenta barbárie nos estádios brasileiros sugere que essas manifestações não são apenas explosões pontuais de violência.
De fato, já há muito os estádios deixaram de ser locais seguros. Torcidas ``organizadas" acabaram tornando-se aglomerações de indivíduos cujo único propósito parece ser o de extravasar suas frustrações cotidianas semeando o terror. Sérias deficiências no policiamento contribuem para transformar todo o público de uma partida em presas desses grupúsculos.
É inadmissível que o cidadão pacífico que sai de sua casa em busca de alguns momentos de diversão se torne vítima de um bando de covardes que, por trás do anonimato das grandes aglomerações, impõe a todos os seus próprios fantasmas.
Já é hora de as autoridades, os clubes e os torcedores saudáveis –a grande maioria do público– dizerem não à violência. Não se pode mais tolerar que uns poucos baderneiros transformem uma partida de futebol numa deprimente e muitas vezes trágica batalha campal. Que a imagem de uma criança amedrontada chorando diante do pai desfalecido permaneça viva na memória de cada torcedor. Que o futebol volte a ser, como é de sua natureza, uma fonte de prazer, não de dor, de tragédia.

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