São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Mais do que primitivismo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Já que se decidiu a intervir nas apurações do Rio de Janeiro, o Tribunal Superior Eleitoral tem a obrigação elementar de atender pedido de recontagem de votos a ser formulado hoje por Waldir Pires (PSDB), candidato derrotado ao Senado pela Bahia.
É claro que todo derrotado esperneia e se acha vítima de fraude. Mas, no caso de Waldir, ele apresenta argumentos que dão toda a solidez ao pedido de recontagem.
Vejamos: houve, na eleição baiana, cerca de 22.600 urnas. Na esmagadora maioria delas, Waldeck Ornelas, um dos dois candidatos ao Senado pelo PFL, obtinha na média 60% dos votos que apareciam em favor de Antônio Carlos Magalhães, o outro candidato pefelista.
Mas, em cerca de 1.400 urnas, Waldeck derrotava ACM, em alguns casos até pelo dobro dos votos. Exemplo: 10ª Zona Eleitoral, seção 148, na qual ACM ficou com apenas 104 votos e, Waldeck, com 217.
Qualquer pessoa que tenha passado mais de duas horas na Bahia sabe que, no momento, é virtualmente impossível que qualquer candidato, mais ainda do próprio seio do ``carlismo", sequer empate com ACM em uma urna que seja. Derrotá-lo com o dobro dos votos, então, só com uma distorção ``que aponta para um desvio fraudulento muito grave", como diz Waldir Pires.
Waldir perdeu a segunda vaga no Senado para Waldeck por apenas 3.051 votos, dos mais de 10 milhões emitidos. Está apenas esperando a promulgação dos resultados, prevista para hoje, para pedir a recontagem, obedecendo aos mandamentos legais.
Por enquanto, não faz acusação. Limita-se a dizer, com razão, que as autoridades eleitorais ``têm o dever republicano de buscar a verdade eleitoral".
Se é assim, também as demais autoridades, entre elas o presidente eleito da República, têm igual dever republicano. O fato de estar aliado a ACM e de Waldir ter preferido ficar com Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial, não justifica a omissão do PSDB nacional na busca da ``verdade eleitoral".
Seria uma boa maneira de mostrar que o Brasil de fato mudou, ao menos em matéria de costumes eleitorais.

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