São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Uma monumental asneira

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Começou a ser tramada no Congresso uma monumental asneira: triplicar o salário dos senadores. A idéia é arquitetada na direção do Senado. ``Os novos senadores vão passar fome em Brasília", justificou ontem o primeiro-secretário, Júlio Campos (PFL-MT), ao defender o abrupto aumento.
Segundo ele, o salário de um senador deveria ser de R$ 15 mil –aceitaria, concede o Júlio Campos, R$ 12 mil, ``apenas" 171 salários mínimos. Não vou entrar na discussão sobre se um senador deve ou não ganhar esse valor. O problema, aqui, é a incapacidade de se ler o que as urnas estão dizendo.
Milhões de eleitores demonstraram um misto de desprezo e desinteresse pela disputa a cargos legislativos, numa enxurrada de votos em branco e nulos. Esse sentimento provocou também uma alta taxa de renovação. Motivo: a suspeita ou convicção (equivocada, diga-se) de que só picaretas dominam o Congresso ou Assembléias Legislativas.
Imagine-se a reação da opinião diante de uma categoria, suspeita de bandalheira, triplicando abruptamente seu salário. Isso num país em que o Ministério da Fazenda garante que vai entrar na Justiça contra as antecipações salariais de trabalhadores que ganham, em média, três mínimos.
Óbvio que vai ser um escândalo, desgatando a imagem de toda uma safra de parlamentares eleitos, sejam ou não senadores –aliás, só ter a idéia e defendê-la publicamente já um escândalo, por indicar a falta de conexão com o país.
PS – Dizem que o sucesso é repleto de pais e que o fracasso é órfão. Verdade: basta ver quantas pessoas, numa feira de vaidades, disputam hoje a ``responsabiliade" pela vitória de Fernando Henrique Cardoso. Pelo menos cinco pessoas, por seu trabalho de bastidores, estão na primeira linha, devido à articulação política, elaboração do real e estratégia de campanha. Pela ordem: Tasso Jereissati, Itamar Franco, Sérgio Motta, Edmar Bacha e Clóvis Carvalho.

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