São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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PT –crescimento, derrota e perspectiva

LUIZA ERUNDINA DE SOUSA

Uma vez terminada a apuração dos votos, faz-se necessário refletir sobre o resultado e olhar para frente. Tentarei contribuir para isso analisando a situação do PT e discutindo minhas próprias perspectivas políticas.
Há um fato inquestionável nestas eleições: o PT sofreu uma derrota, que tem três razões principais: o Plano Real, a força material do adversário vitorioso e os erros cometidos pela direção do PT.
Muito já foi dito das duas primeiras razões. Seja como for, o Plano Real deu à vida das pessoas uma momentânea e relativa estabilidade, fazendo de Fernando Henrique beneficiário direto da vontade popular de ver o plano ``dar certo", ou seja, impedir a volta da inflação.
No caso das forças que estiveram ao lado do candidato vitorioso, é inegável sua superioridade material, que apareceu nos recursos disponíveis para a campanha de rua, nos gastos evidentemente altos feitos no programa de TV e, principalmente, no avassalador apoio recebido da mídia e do governo.
Mas uma derrota como a que nós sofremos, isto é, sem a realização do segundo turno, não se explica apenas pela adversidade oriunda das circunstâncias ou ainda pela força do adversário. Uma derrota como a do PT tem responsabilidades no próprio PT.
Desde logo é necessário dizer que o PT cresceu. Nossa bancada federal aumentou bastante e nossas bancadas estaduais também cresceram. No que se refere ao Senado, tivemos sucesso em quatro Estados, além de nos termos credenciado para disputar o segundo turno para três governos estaduais.
Mas crescimento e derrota não se excluem. O PT foi derrotado porque seu projeto de levar Lula à Presidência da República foi derrotado.
O PT não foi ao segundo turno numa eleição em que seu candidato apareceu como favorito –a ponto de muita gente ter contado com a vitória já no primeiro turno– porque a proposta que apresentamos se mostrou mais estreita do que a sociedade requeria e como que entorpeceu o potencial eleitoral do Lula.
O PT desde o início optou por uma política de alianças que excluía as forças de centro-esquerda e de centro-democrático e, depois, coerente com a exclusão inicial dessas forças, nossa campanha nacional não dialogou com a sociedade que come, dispõe de rede de água e esgoto e tem acesso, ainda que precário, a algum tipo de equipamento público.
A campanha falou apenas aos ``excluídos", quando nossa matizadíssima classe média e nossa estratificada camada popular apresentam contrastes que requeriam uma campanha centrada não apenas na idéia de reparação social, mas num projeto de desenvolvimento.
Aqui em São Paulo nossa derrota foi mais significativa, pois, no Estado mais importante do país perdemos as três disputas majoritárias. O fato de José Dirceu ter ficado atrás de Rossi, candidato cuja penetração política no Estado não pode ser comparada à do PT, e cujo tempo na TV era inferior ao nosso, dá uma medida de o quanto foi equivocada a linha política da nossa campanha majoritária.
O crescimento experimentado por nossas bancadas federal e estadual não se refletiu na votação para o governo, basta comparar as diferenças respectivas com as votações obtidas para os mesmos cargos nas eleições de 1990. Seja como for, o segundo turno nos oferece uma oportunidade para iniciarmos a correção do rumo.
Defendo que o PT não deve se omitir. Temos de emprestar apoio direto e engajado à candidatura Covas. Seria um desastre para o Brasil a eleição em São Paulo de um candidato sem nenhum compromisso com a democracia.
Cada um dos mais de 4 milhões de votos que recebi devo principalmente à militância do PT e, também, àqueles que, não sendo petistas, têm a democracia como valor permanente. Embora minha candidatura tenha obtido uma votação expressiva, a maior do PT no Estado nestas eleições, o fato de nosso partido não ter conquistado mais uma vaga no Senado ilumina de uma maneira adicional nossos equívocos: boa parte da campanha foi feita com um olho na sociedade e outro na luta interna do partido.
As perspectivas que se abrem para o PT no próximo período da vida brasileira –quando certamente seremos chamados a lutar para que a pretendida modernização não resulte em mais desemprego, menos investimentos na área social e na reiteração de velhos vícios clientelísticos– são a de um partido com suas energias voltadas para a sociedade.
De minha parte, tendo sido honrada com um apoio tão expressivo do povo de São Paulo, que em todos os cantos do Estado me deu uma votação que as dificuldades enfrentadas pela candidatura não permitiriam antecipar, só posso sair da batalha com o ânimo redobrado para enfrentamentos futuros.
O PT, como de outras vezes, encontrará em sua militância e em sua indestrutível vocação para ligar-se às forças vivas da sociedade a inspiração necessária para superar as limitações atuais e, num futuro muito próximo, reencontrar o caminho da vitória.

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