São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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Novos horizontes para o Hospital das Clínicas

A descentralização está em pauta: a idéia é transformar o HC em uma autarquia especial
ANTONIO CARLOS GOMES DA SILVA
Caminhamos para o final de um período de administração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC) despreocupados quanto ao desempenho passado e confiantes com a perspectiva otimista que antevemos para o futuro.
Despreocupados porque, tanto na administração anterior como na atual, sempre houve uma visão social e holística dos problemas de saúde de nossa terra, que nos impulsionaram na direção do melhor aproveitamento possível dos recursos de que o hospital dispõe, na tentativa hercúlea de contribuir para atenuar a grave crise que há décadas acomete o sistema de saúde brasileiro. Haja vista as filas intermináveis para os atendimentos nas diversas clínicas e as macas superlotando os corredores do Pronto Socorro do HC, já denunciadas em jornais desde 1948. De 1948, repito.
No aspecto do atendimento à população, inúmeras ações foram desencadeadas, culminando com o aumento dos leitos de retaguarda e de aidéticos para o Pronto Socorro, em Suzano (SP); com a instalação da Casa de Extensão ao Atendimento do Aidético; com o funcionamento da Triagem Médica Geral; a inauguração da Unidade de Queimados e suas salas de cirurgia e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI); a reativação de leitos de UTI do HC; o aumento da capacidade da Unidade de Diálise Renal; o Projeto Visão, que funciona aos sábados; o reequipamento do HC; a ampliação da Central de Óxido de Etileno e, ainda, a devolução de 1.094 leitos humanizados, mais confortáveis, apesar das reformas ainda em curso e com as atividades de ponta, as últimas das quais o transplante de medula óssea e seu banco de dados de doadores, o banco de pele e a instalação da Unidade de Transplante de Tecidos.
No aspecto administrativo, apenas dois exemplos: as recentes divulgações da imprensa quanto ao sucesso obtido com a concorrência internacional de medicamentos e os preços que pagamos pelo principal insumo do HC, o oxigênio líquido.
Neste passo é importante destacar nossa filosofia de trabalho que se funda em três princípios básicos:
1) Procuramos estimular a concorrência, ou seja, a economia de mercado, conscientes de nosso importante papel de gestores do dinheiro público.
2) O nome do HC é ``marketing" e por isso exige a correspondente remuneração, através dos preços de seus insumos.
3) Todo consumidor tem que ocupar seu espaço, exigindo tratamento correspondente ao respeito que tem pelo compromisso assumido.
Por dever de justiça, este êxito deve ser creditado à atual administração do Estado, que, quando por nós solicitada, jamais negou as verbas que permitiram recuperar a credibilidade do HC junto aos fornecedores. O resultado aí está.
Quanto ao futuro, em reunião com nossa equipe há três semanas, resolvemos acelerar as atividades, aumentando o ritmo de trabalho, em vez de arrumar as gavetas, como é de costume, porque temos três projetos em franco desenvolvimento, por grupos de trabalho por nós designadas, a saber:
1) Descentralização administrativa (de ordem interna).
2) Descentralização do Complexo HC.
3) Melhor remuneração, através de prêmio por produtividade.
Entendemos ser impossível manter a atual estrutura de cinco institutos, dois hospitais auxiliares e uma Divisão de Reabilitação, atendendo 120 mil pacientes externos e 2.000 internos, exigindo-se eficiência administrativa e técnica, diante de situações e realidades peculiares de cada unidade, que tornam a administração centralizada complexa e pouco eficiente.
Por isso é nossa intenção propor um novo modelo gerencial, com autonomia e agilidade administrativa das várias unidades, orientadas por uma diretriz estabelecida pelo Conselho Deliberativo e, evidentemente, vinculada à direção científica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, comprometido com objetivos e metas anuais de gestão hospitalar.
Este modelo já foi desencadeado em seu primeiro estágio, através de ordem interna de serviço, que disciplina a aplicação de recursos a partir das aspirações de cada instituto.
A proposta de descentralização do Complexo HC encontra-se no Conselho Deliberativo para, após aprovação, ser submetida ao governador. A idéia é transformar o HC em autarquia de regime especial.
Finalmente, nosso entendimento sobre remuneração nos leva a acreditar que a única saída é a justa remuneração pelo efetivo trabalho desempenhado.
Encontramos no HC o embrião deste programa através do salário complementar, que a Fundação Faculdade de Medicina, entidade de apoio ao HC, paga a maior parte dos funcionários do complexo, destinando percentual do faturamento para este fim.
Um grupo de trabalho especialmente designado estuda a forma de distribuição do que chamamos produtividade, a fim de que o ganho seja correspondente ao empenho, à dedicação e às responsabilidades da atividade realizada.
A equação principal é a participação das áreas-meio para o faturamento da área-fim, com o devido escalonamento percentual das diferentes categorias profissionais envolvidas, tendo como premissa o enfoque do controle da qualidade no atendimento prestado. Aliás, já adotamos este modelo-piloto na assim chamada Casa da Aids.
Por estas razões, nos sobram ânimo e esperança no futuro do HC.

ANTONIO CARLOS GOMES DA SILVA, 56, médico alergista, é diretor-superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

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