São Paulo, sábado, 15 de outubro de 1994
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O Plano Irreal

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Se conseguisse passar ao segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva teria mais munição para enfrentar o Plano Real. Por todos os lados emitem-se sinais de fim de euforia –alguns deles do próprio ministro da Fazenda, Ciro Gomes, insinuando medidas amargas para segurar os preços.
A Fipe anuncia que a inflação deste mês deve registrar 3% –a previsão inicial era de 2,5%. Está chegando dezembro, ativando ainda mais o já ativado ambiente de consumo. Natural, portanto, que se avolumem pressões.
Os exportadores mostram-se desesperados: alegam que perdem dinheiro e querem elevação do câmbio, o que, na prática, significa encarecer as importações. Com uma inequívoca pitada de terrorismo, eles anunciam para março o fim dos saldos positivos da balança comercial (exportações menos importações).
Não aceitam reajustes anuais de salário; muitos deles conseguem antecipações, confirmadas na Justiça. O governo tenta, agora, bloqueá-las em instâncias mais altas do Judiciário.
Estimulado pelo clima eleitoral, produziu-se no país o Plano Irreal –a sensação em amplos segmentos de que seria possível imediatamente consumir mais sem aumento de preços. Fora dos palanques e dos textos religiosos, como se sabe, não existe Paraíso.
O problema é que, quanto maior for a decepção diante do real, mais risco corre o prestígio de Fernando Henrique Cardoso. Ele vai precisar de toda a força para, logo no início do ano, reunir os partidos e aprovar dificílimas reformas constitucionais.
PS – Na bolsa de apostas nutrida por gente próxima a Fernando Henrique Cardoso, circula o nome do futuro senador José Serra. Ele seria convidado para o Ministério da Educação, uma das áreas estratégicas do novo governo. O Ministério da Fazenda, segundo a bolsa, deve ficar com Pedro Malan ou Edmar Bacha; Planejamento, também com papel redefinido, Paulo Renato Souza, que também pode presidir o BNDES.

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