São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Apuração confirma que eleição casada se transforma em `adúltera'

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

As apurações estão dando toda a razão a uma frase produzida pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) durante a campanha eleitoral: ``Estas eleições, supostamente casadas, são as mais adúlteras da história".
Promoveu, igualmente, adultério maciço em relação aos candidatos aos Legislativos federal e estaduais, despejando quantidades industriais de votos em branco e nulos.

Descasamento
Os exemplos de descasamento são incontáveis, mas o mais emblemático talvez seja o do Espírito Santo.
Nesse Estado, o PT teve o seu melhor desempenho no plano estadual e quase conseguiu fazer de Vitor Buaiz o governador já no primeiro turno.
Em contrapartida, na eleição presidencial, o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, foi estraçalhado por Fernando Henrique Cardoso (61% x 26%).
Detalhe: naufragaram os candidatos ao governo capixaba que apoiavam Fernando Henrique (Max Mauro, do PMN, e Rose de Freitas, do próprio PSDB).
Até a soma dos votos dos dois é inferior à do segundo colocado, Dejair Camata, do inexpressivo PSD.
Os descasamentos valem para todos os partidos. No Amazonas, por exemplo, o candidato do PPR, Amazonino Mendes, elegeu-se governador já no primeiro turno.
Mas o candidato presidencial do PPR, Esperidião Amin, não chegou a atingir, no Estado, 2% dos votos.
O melhor desempenho de Orestes Quércia, candidato presidencial do PMDB, foi no Acre, único Estado em que supera os 10% dos votos válidos.
Mas o candidato do PMDB ao governo estadual, Flaviano Mello, ficou quase 20 pontos percentuais abaixo do primeiro colocado, Orleir Cameli (PPR).
Fenômeno idêntico ocorreu com Leonel Brizola (PDT), que obteve sua melhor votação no Rio Grande do Sul (cerca de 15% dos votos válidos). Mas seu candidato a governador, Sereno Chaise, ficou em quarto lugar, atrás até do PPR.
Fernando Henrique Cardoso ganhou em Santa Catarina, mas quem disputa o segundo turno para o governo estadual são os dois candidatos de partidos que não faziam parte de sua coligação –Angela Amin, do PPR, e Paulo Afonso, do PMDB.
Em São Paulo, nem Mário Covas (PSDB) nem José Dirceu (PT) acompanharam a votação dos candidatos presidenciais de seus respectivos partidos.
Covas teve cerca de 10 pontos percentuais menos do que FHC, ao passo que José Dirceu conseguiu apenas pouco mais da metade dos votos de Lula.

Consenso
A explicação virtualmente consensual, nos partidos e meios acadêmicos, para esse fenômeno é a coincidência das eleições, o que privilegiou a campanha presidencial e escondeu as demais.
``Visivelmente, a campanha presidencial puxou os recursos, o programa de TV no horário gratuito e o noticiário, em detrimento das outras", afirma, por exemplo, o cientista político José Álvaro Moiséis.
Reforça o historiador Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo do PT: ``A campanha de São Paulo ficou soterrada pela campanha nacional".
``A disputa pela Presidência ofuscou o resto", completa o professor de ciência política da Universidade de São Paulo Leôncio Martins Rodrigues.

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