São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Masada tinha solo fértil há 2.000 anos

HAIM WATZMAN
DA "NEW SCIENTIST"

Quando os romanos finalmente conquistaram a cidadela judaica assediada de Masada, no ano 73 d.C., eles penetraram na cidade por uma rampa construída com madeira de tamargueira. Esse pedaço de madeira agora forneceu evidências que fundamentam as informações da época, segundo as quais era praticada agricultura na região hoje desértica.
O historiador judeu Flavius Josephus, que escreveu no primeiro século d.C., notou que quando o rei Herodes construiu a fortaleza montanhosa de Masada, às margens israelenses do mar Morto, ele reservou o topo da montanha para a lavoura.
Josephus também relatou que quando o irmão de Herodes, José, se escondeu em Masada ele quase morreu de sede, mas foi salvo por um temporal. Hoje só chove uma vez a cada poucos anos na região, e a extrema aridez do clima torna impossível a prática da agricultura.
Uma equipe de cientistas israelenses acaba de descobrir evidências químicas de que o clima pode haver sido mais úmido 2.000 anos atrás, confirmando a descrição do local feita por Flavius Josephus.
Dan Yakir, do Instituto Weizmann de Ciências, em Rehovot, e seus colegas Joel Gat e Arie Issar, da Universidade Ben Gurion, no Negev, e outras, analisaram as concentrações de átomos estáveis de carbono e oxigênio na celulose presente na rampa romana em Masada. As proporções dos diferentes átomos variam de acordo com as condições em que as árvores cresceram.
As tamargueiras são árvores características da região de Masada, e os cientistas supõem que os soldados romanos tenham derrubado árvores da própria região. Os pesquisadores analisaram amostras da madeira de tamargueira que forma a rampa, que continua igual desde que os romanos derrotaram os últimos rebeldes judeus que haviam fugido para Masada.
Eles as compararam com amostras tiradas de tamargueiras modernas da região de Masada e das árvores que crescem na região central de Israel, onde o clima é mediterrâneo.
Constatou-se que a celulose antiga contém baixas concentrações de dois átomos estáveis, o carbono-13 e o oxigênio-18. As amostras de madeira atual –dos dois lugares diferentes– continham concentrações maiores destes dois átomos.
As plantas que crescem sob condições difíceis –em regiões que costumam passar por secas ou em solo salgado– tendem a apresentar altas concentrações de carbono-13. Os níveis mais altos de oxigênio-18 são associados ao baixo nível de umidade. Assim, as medições feitas oferecem duas indicações independentes de que o clima de Masada, no século 1 d.C., era menos árido e mais propício à agricultura do que é hoje.
Os pesquisadores observam que esse tipo de análise de átomos pode ser um instrumento valioso para a interpretação de acontecimentos históricos em áreas situadas à beira de desertos, onde mesmo as menores variações climáticas podem bastar para produzir importantes mudanças na vegetação –e podem significar a diferença entre uma terra habitável e outra inabitável.
Escavações arqueológicas, incluindo a de Masada, já mostraram anteriormente que a história da nação judaica no período romano escrita por Josephus é, de modo geral, exata. O estudo de Yakir fornece confirmação química da confiabilidade de Josephus.
"Estudar as árvores de Masada foi uma idéia muito inteligente", diz Yehouda Enzel, do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Hebraica, em Jerusalém. "Embora já houvesse evidências históricas de que o clima era mais úmido, o estudo dos átomos é mais convincente".

Tradução de Clara Allain

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