São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994 |
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Unidade Bop produz acid jazz à brasileira
LUÍS ANTÔNIO GIRON
``Quebrando o Gelo do Clube" (Eldorado), do grupo, é o primeiro CD brasileiro de acid jazz –gênero que mestiça jazz, soul e hip-hop surgido em Londres em 1988 e hoje praticado em toda a esfera. Nos EUA, assumiu a tarja mais militante de jazz rap. Os representantes desse pendor são o compositor e poeta Guru e os grupos US3 e Digable Planets (que dizem fazer hip-bop, solda de bebop e hip-hop). Nada mais óbvio que no Brasil ganhasse matizes brejeiros e tim-maianos (leia texto abaixo). ``A intenção da Unidade Bop é preencher o hiato deixado pela soul music brasileira", explica o rapper e bailarino Eugênio Lima, 26, que forma a banda com a cantora Paula Lima, 24, o letrista e cantor Will Robson, 26, e o tecladista Paulo Checolli, produtor do disco. ``Queremos dar continuidade à música negra cantada em português, que se perdeu ainda nos anos 70." A Unidade Bop começou há três anos num show na Cultura Inglesa. Eugênio já havia trabalhado com Skowa, Lagoa 66 e Fábrica Fagus e tinha vontade de fazer uma experiência consistente no campo do jazz rap. Montou o grupo e passou a compor para ele. No final de 1993, a UB fez temporada no Crowne Plaza e foi convidado a gravar. As sessões ocorreram entre maio e junho deste ano no estúdio Be Bop, dotado de mesa de 32 canais. A banda procura se diferenciar das colegas inglesas e norte-americanas por usar poucos ``samples" e sequenciadores. Acentua a performance ao vivo e o improviso. Os arranjos se estruturam no combo (baixo, bateria e piano), sax e três vozes. DJs e rappers são convidados eventuais, assim como outros instrumentistas. No setor das citações (chavão crescente no acid jazz), a UB sampleia tanto Miles Davis e evoca Charlie Parker como insinua influências dos estegossauros brazucas do gênero, tipo banda Black Rio ou Dafé. O alvo, diz Eugênio, é encontrar um desvio da linha evolutiva da MPB: ``Dá para seguir um curso original dentro do pop brasileiro sem ter que lançar mão da Tropicália e da bossa nova." O uso criptográfico da tradição do soul verde-amarelo se associa a letras românticas e auto-referentes, sem o engajamento típico do hip-hop, e a um corpo amplo de influências. No próximo dia 26, a UB confronta seu estilo com os de Guru, Digable Planets e US3. O grupo comanda uma ``jam session" no Bourbon Street Music Club com as três atrações da noite do jazz rap no Free Jazz Festival. ``UB é resultado da planetarização do pop", quer Eugênio. Discorre que não é o caso de vestir a camiseta do acid jazz ou do jazz rap, mas de sintonizar as diversas vocações experimentais do pop atual. ``Queremos restituir ao rap o caráter de ritmo com poesia, alterando o lance do tempo. É só o começo." Disco: Quebrando o Gelo do Clube Banda: Unidade Bop Produção: Paulo Checolli Lançamento: Eldorado Quanto: R$ 18,00 (o CD, em média) Texto Anterior: Livro resume obra de Iberê Camargo Próximo Texto: Banda leva jazz ao terreiro Índice |
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