São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Livro resume obra de Iberê Camargo

Coletânea de fotos e textos está à venda na Bienal

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Pouco antes de morrer, há dois meses, Iberê Camargo tinha outras duas preocupações além da pintura: tratar o câncer e supervisionar a elaboração do livro sobre sua obra.
``Iberê Camargo", coletânea com 70 reproduções de quadros, ensaio fotográfico de Luiz Achutti e seis textos críticos de Ronaldo Brito em português e inglês, será lançado amanhã, a partir de 19h30, na 22ª Bienal do Livro.
Patrocinado pelo grupo Gerdau, o livro tem tiragem inicial de mil exemplares. A vendagem total arrecadará R$ 80 mil, que serão doados à Fundação Iberê Camargo, a ser criada em Porto Alegre (RS).
A idéia inicial era lançar o livro em novembro, quando Camargo completaria 80 anos. A doença do pintor –que fez questão de selecionar as reproduções e ler os textos– abreviou o processo.
``Os amigos tinham vontade de ver sua obra num livro de qualidade, com boas reproduções", conta Maria Camargo, 79, viúva do pintor, com quem viveu meio século.
O livro procura contemplar todas as fases de Camargo, desde ``O Riacho", um de seus primeiros quadros, do início da década de 40, até ``Solidão", seu último trabalho, interrompido antes dos retoques finais.
Com introdução de Rodrigo Naves, a publicação mostra as paisagens dos anos 40, as formas da década de 60, os famosos carretéis, as garrafas e o figurativismo da fase final da carreira de Camargo.
Resumir uma criação tão vasta, diz Naves, não é fácil. ``Se o sentido geral de sua obra tem uma definição clara, não se pode falar o mesmo em relação aos trabalhos individuais, sejam eles quadros, gravuras ou desenhos", afirma.
Para satisfazer a vontade do artista, a equipe foi a vários Estados, onde o fotógrafo Rômulo Fialdini batia às portas de museus e colecionadores.
``Tem gente que não deixou fotografar os quadros", lembra Maria, que mantém no apartamento de Botafogo (zona sul do Rio) 12 telas pintadas pelo marido.
Segundo ela, a memória de Camargo nunca falhou e ele reconhecia imediatamente qualquer obra que tivesse saído de seu ateliê. ``No livro, ele privilegiou a qualidade e sua vontade prevaleceu", diz Maria.
``Iberê Camargo" mostra também guaches e ilustrações desenhadas especialmente pelo pintor para a última parte do livro, uma cronologia dos principais acontecimentos de sua vida.
O crítico Ronaldo Brito, 45, afirma que cinco das críticas foram publicadas em órgãos de imprensa por ocasião de exposições do artista realizadas entre 1986 e 1994. Iberê Camargo as leu, mas não fez comentários.
``Ele tinha esse princípio de não dizer nada sobre o que escreviam de sua obra", conta Brito, que produziu um texto tardio sobre a fase dos carretéis, especialmente para a publicação.
``O livro é o início de um movimento e não o fim. Esperamos que agora o Brasil começe a se empenhar pelo seu artista, porque outros países não vão fazê-lo", diz o crítico.
Brito acha que é ``urgente" uma publicação que mostre gravuras e desenhos do pintor. De acordo com Maria, há mais de 800 desenhos do artista, que trabalhou compulsivamente até o fim da vida.
O crítico afirma que Camargo ``pintava para a universalidade e tinha plena consciência da importância disso". Para Brito, o livro –assim como a obra de Iberê Camargo– é obrigatório em qualquer museu do mundo.

Livro: Iberê Camargo
Preço: R$ 80,00
Onde: Pavilhão da Bienal (parque do Ibirapuera, zona sul de São Paulo)

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