São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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Catadores comem comem ratos em Pernambuco

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TIMBAÚBA

Catadores comem comem ratos em Pernambuco
Cerca de 20 catadores de lixo de Timbaúba (95 km de Recife, PE) estão comendo ratos de esgoto para sobreviver.
Eles capturam os animais cavando as tocas com a mão ou pedaços de pau e cozinham com sobras que encontram no aterro sanitário da cidade.
Crianças e adultos dividem a refeição. ``Se não comer, passa fome", diz Edileide Maria José da Silva, 17, grávida de seis meses. ``Se tivesse condição, lógico que não comia", afirma Edileusa Félix da Silva, 24.
``Nós somos mais ratos do que os próprios ratos", afirma a catadora de lixo Maria das Dores da Conceição, 40. Ela e os oito filhos se alimentam de ratos encontrados no aterro.
Isolados do restante da comunidade, os catadores ignoram que por três dias poderiam ter trocado os ratos por carne bovina na cidade.
Alarmada com os prejuízos com o roedor, a associação comercial local decidiu fazer uma campanha. Cada quilo de rato capturado valia um quilo de carne bovina de primeira.
Batizada de ``Rato no saco, filé no prato", a campanha começou no sábado e terminou ontem pela manhã.
``Nosso objetivo era alertar o poder público" diz o presidente da associação, João Melo, 43. Segundo ele, os ratos }devorariam até 5% dos lucros.
Ao todo, foram recolhidos 366 ratos, que pesaram juntos 123,55 kg. Os animais foram incinerados e enterrados.
O maior dos animais pesava 700 g e foi capturado por Raul Cesário, que receberá como prêmio extra um queijo de 2 kg.
``Descambaram para o sensacionalismo, superdimensionaram a história e criaram outro problema", afirmou o prefeito em exercício de Timbaúba, Givaldo Macedo (PDT), 52.
Macedo teme que a campanha faça com que possíveis investidores se desinteressem em aplicar dinheiro na cidade.
"Não temos tanto rato assim. Prova disso é o número de animais capturados", afirma. Macedo diz, porém, que não há estatística ratos em Timbaúba.
Sobre os catadores, ele afirma que "miséria não é privilégio da cidade" e que o "problema " não é só da prefeitura.

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